O MAR SEM O ALMIRANTE –
Nas minhas saudosas escritas sobre o futebol potiguar, percebi que tenho cometido uma ingratidão em omitir o nome do time Naval: o Riachuelo Atlético Clube (RAC), meu berço, meu nascedouro para o futebol.
O RAC foi fundado em 1948 e teve a sua raiz encravada na Instituição militar, a Marinha de Guerra do Brasil.
A agremiação teve no seu comando, em suas boas fases (década de 1950 e início de 1960), a figura super simpática e de esmerada educação: o Almirante Silveira Lobo; carioca, botafoguense até a medula e que aqui vestiu com muita empolgação o manto colorido de azul e branco do RAC. Contava com a força e o empenho do seu auxiliar direto, o abnegado e incansável Tenente Castro, sempre acompanhado do seu inseparável guarda-chuva, seja no tempo chuvoso ou no sol brabo de torrar o “quengo”.
Mantinha, o Almirante, um elo permanente com o futebol carioca, de onde trazia bons jogadores, que se destacavam nas competições na Marinha, no Rio de Janeiro.
Assim, o time naval sempre se destacou no campeonato da cidade, chegando a fornecer excelentes jogadores para compor a Seleção de Futebol do Rio Grande de 1959, ano que o Estado tornou-se Campeão do Nordeste de Seleções, em competição nacional. Foram destaques na época: Pádua, grande centro médio, de qualidade técnica invejável; Ivo, excelente meio-campista, que depois defendeu a briosa equipe do Flamengo; Aladim, centroavante goleador, de boa presença na área, que chegou a jogar no time do Olaria, do Rio de Janeiro; Messias, bom ponta direita; Zé Maria, sargento naval, bom centroavante, que fez parte como titular da Seleção do Rio Grande do Norte de 1962. Equipe que teve no seu comando o técnico Pedrinho 40, o melhor treinador de futebol do Estado.
O RAC teve e revelou, em sua categoria juvenil, jogadores de alta qualidade técnica, como Marinho Chagas, que chegou à Seleção Brasileira e foi considerado o melhor lateral esquerdo, na Copa do Mundo de 1974; esse escriba, que chegou a defender a Seleção do Rio Grande do Norte de 1962, com apenas 19 anos e muitos outros bons atletas que defenderam com brilho o futebol potiguar.
Em 1967, formou uma excelente equipe, quando disputou com o América FC a final da competição Estadual, perdendo o título em uma acirrada disputa, quando não houve vencedor, ou seja: perdeu o título diante de um empate, quando estava em vantagem até bem próximo do encerramento da partida. Em 1987, enfrentou novamente o América, na disputa da liderança do terceiro turno do certame do Estado.
É bem verdade que o time viveu na dependência direta do Comando Naval. Quando tinha a sorte de contar com um militar que gostasse de futebol, as coisas fluíam maravilhosamente bem, como aconteceu durante o período de permanência do Almirante Lobo, em Natal. Quando não, a coisa descambava, e o RAC ia para o fundo do “mar”.
Há alguns anos, o RAC tem sido pouco lembrado e muito menos falado; depois de 28 anos no estaleiro, somente no ano passado (2021) subiu no dique para se renovar e disputar o Campeonato Estadual, na segunda divisão, onde até hoje permanece, sem esperança de um retorno breve para a elite do futebol potiguar.
Avante, com boas e largas braçadas RAC! O mar ainda pode voltar a ser de Almirante.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, berilodecastro@hotmail.com.br
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