O CAOS NA SAÚDE PÚBLICA – Armando Negreiros

O CAOS NA SAÚDE PÚBLICA –

A situação crítica da saúde no estado do Rio Grande do Norte não é muito diferente do resto do Brasil. Falta vontade política para resolver o problema. Habitualmente, não há verba suficiente para a saúde, entretanto, quando esta existe é corroída por dois tipos de cupins insaciáveis: a má gestão e a corrupção, irmãs siamesas. Os escândalos se sucedem e não perderei tempo em citá-los, pois tomaria todo este jornal. Basta que se leia as notícias diárias.

Em Natal o município é obrigado a aplicar 16% do orçamento geral na saúde. Além de ser insuficiente, medicamentos são comprados próximo de expirar o prazo de validade e estocados sem as mínimas condições. O resultado, todos sabemos: prejuízos astronômicos e, lá vem a outra praga, contratar, sem licitação, empresa para assessorar como devem ser guardados os fármacos. Todo o mundo sabe que é ao abrigo da luz, da umidade e em temperatura amena. Além disso, a compra deve ser racional e longe do vencimento do prazo de validade.

Os hospitais públicos de Natal, tipo Walfredo Gurgel, Santa Catarina, João Machado, estão superlotados, faltam materiais e medicamentos e não oferecem as mínimas condições de trabalho. As equipes médicas, muito mal remuneradas, não dispõem da mais elementar infra-estrutura. Os corredores vivem lotados de pacientes. Existem até farmácias se instalando em torno desses hospitais para vender remédios que estão faltando.

Os vinte e dois hospitais regionais do interior do estado, por se encontrarem em situação ainda pior, mandam os pacientes para a capital. A sobrecarga se acentua, falta tudo, está instalado o caos. Os que precisam de exames laboratoriais mais simples enfrentam filas, usam as próprias economias e acabam resolvendo o problema. Entretanto, quando há necessidade de exames de maior complexidade (ultrassonografia, tomografia, ressonância magnética, etc.), materiais de alto custo (stents, órteses e próteses, etc.), procedimentos cirúrgicos especializados, há que se fazer a escolha de Sofia, ou seja, atender um em detrimento de outro que deverá ficar à míngua.

Na tentativa de orientar as famílias, prevenir doenças e desafogar os hospitais públicos o governo criou as equipes de PSF (Programa Saúde da Família). Dos 104 postos existentes 26 estão sem médicos. Isso porque o salário oferecido por 40 horas semanais é de R$1.030,00 (mil e trinta reais). É bem verdade que há uma gratificação de R$3.800,00 (três mil e oitocentos reais). Mas gratificação não é salário. E depois, na doença, na invalidez, na aposentadoria, como esse médico vai sobreviver com mil reais? Por isso que estão sobrando vagas.

O Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pela integralidade das ações de saúde no serviço público, é igual à nossa Carta Magna de 1988, no papel é perfeito. Mas, na realidade, é uma utopia. Como o SUS não dispõe de uma estrutura para suprir o atendimento à população, utiliza-se da rede privada para complementar, o que é perfeitamente lícito e constitucional. Muitas vezes sai até mais barato terceirizar do que montar um serviço próprio. Mas, aí, aparecem os puristas das mais diversas tribos, a dizer que o SUS não pode se contaminar utilizando os serviços da rede privada. Os representantes dessas entidades deveriam ter atendimento exclusivo pelo SUS, pois, sentindo na pele as dificuldades poderiam até ajudar a resolvê-las.

O que vemos hoje é que um quarto (25%) da população do país se associa a algum plano de saúde para suprir a deficiência do sistema público. Os arautos defensores da castidade virginal do SUS se valem dos planos e seguros de saúde privados. Entretanto, não querem permitir esse acesso aos desassistidos.

Os pobres, aqueles que realmente precisam, os que não podem pagar planos e seguros, são as únicas vítimas da iniqüidade dos nossos governantes, completamente alheios ao sofrimento da população, torrando dinheiro com obras e projetos faraônicos, alguns sem a menor lógica.

Concluo afirmando o que disse no começo: o caos na saúde pública se deve à falta de vontade política para resolver o problema. Por má gestão ou por corrupção, irmãs siamesas.

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,3730 DÓLAR TURISMO: R$ 5,5580 EURO: R$ 6,259 LIBRA: R$ 7,1290 PESO…

16 horas ago

Netflix fecha acordo para compra da Warner Bros. Discovery por US$ 72 bilhões

A Netflix anunciou na manhã desta sexta-feira (5) acordo de compra dos estúdios de TV e cinema…

16 horas ago

Suspeito de participar da morte de menina de 7 anos na Grande Natal é preso

A Polícia Civil prendeu nessa quarta-feira (3), em Natal, um dos suspeitos de partipação na morte da…

16 horas ago

Dino marca para fevereiro de 2026 julgamento do caso Marielle na 1ª Turma do STF

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta sexta-feira (5) marcar para os…

16 horas ago

Investigado por contrabando é preso ao ser flagrado pela PF com material de abuso sexual infantojuvenil

A Polícia Federal prendeu um investigado por contrabando de cigarros em flagrante após localizar material configurado…

16 horas ago

Justiça manda Airbnb ressarcir despesas médicas de cliente que ficou paraplégica após acidente em hospedagem

A Justiça do Distrito Federal determinou que o Airbnb pague, na íntegra, os custos de uma…

16 horas ago

This website uses cookies.