O BRASIL AO SABOR DA MODA – Alberto da Hora

O BRASIL AO SABOR DA MODA –

Como influência do cinema americano no comportamento e na moda, desde os anos 1940, no Brasil, podíamos notar uma elegância nas roupas clássicas, nos chapéus masculinos e femininos. Penteados contidos emolduravam discretas ou pesadas maquiagens, e os saltos altos eram destaque entre as mulheres. Colares e insinuantes decotes, também, embora fossem populares as blusas recatadas e as saias plissadas, comuns nos colégios femininos. Entre os homens, sobriedade e cuidados no vestir, e uso dos sapatos bicolores que faziam sucesso no meio dos mais arrojados. Paletós, com ou sem gravata, eram muito usados até pelos mais pobres.

Os anos dourados foram marcados por uma ainda contida e até ingênua moda entre o público masculino. O máximo da ousadia eram as calças apertadas, as camisas de mangas arregaçadas para ressaltar o muque e os sapatos sem meia, ícone da rebeldia juvenil. O cinema norte americano produzia mitos da incipiente resistência, através das imagens de James Dean, astro nascente e efêmero, que influenciou os jovens ocidentais, assim como Marlon Brando, um mais duradouro modelo de atrevimento social.

A moda dos icônicos anos 60 foi marcada pela variedade de cores, principalmente nas roupas femininas. Um comportamento mais despojado representava o abandono do recato vigente em décadas anteriores. O mundo mudava, e a moda acompanhava, de maneira vigorosa e com uma visão comercial, as novas alterações. A literatura e, principalmente, a música eram a locomotiva dos movimentos que provocavam o crescimento da mentalidade social e política, gênese da explosão libertadora dos vindouros anos 70.

A manifestação do desejo de liberdade dos costumes no Ocidente foi encabeçada por dois eventos marcantes da época. Os movimentos estudantis na Europa, mormente em Paris, que emitiram para o mundo a mensagem de que os jovens estavam atentos e dispostos a exercer prerrogativas e direitos de cidadão. O outro foi o movimento Hippie, representante da chamada contracultura, que pregava, a partir do rompimento com a antiga ordem, o direito à total liberdade político-social. O comportamento livre e o não-conformismo foram a bandeira da turma do Paz e Amor, cujo estilo foi copiado pela indústria da moda. Exercendo uma evidente apropriação cultural, passaram a explorar comercialmente a sua maneira de vestir e de calçar. Como resultado, surgiram as roupas excessivamente coloridas, a profusão de colares e miçangas, os cosméticos adequados para cabelos longos, lisos ou revoltos e a popularização do estilo black power, adotado pela raça negra, que também poderia arranjar e exibir suas abundantes cabeleiras. Gosto berrante e duvidoso por aqui, eram as tais calças Boca-de-sino e a popularidade de um certo sapato cavalo-de-aço. A calça cheguei a usar; pelo sapato nunca senti a menor simpatia. Além de que, desde muito tempo, sou adepto de uma roupa discreta e das populares e eternas gola polo. Eu já fora um fiel usuário da camisa fio Helanca, aquela que fazia enorme diferença quando o objetivo era conquistar uma namorada.

Atualmente, com poucas variações, permanecem na preferência masculina os paletós, as gravatas e as chamadas camisas sociais. Entre a mulheres, são constantes as mudanças. As saias vão e voltam disputando a preferência pelos shortinhos, às vezes inconvenientes, porém onipresentes em qualquer ocasião. Vive-se hoje uma total liberdade no vestir e no calçar, onde os tênis imperam como indispensável artigo de consumo. Não quero ser rabugento, porém mantenho uma enérgica objeção. Me aborrece o gosto duvidoso presente no exibicionismo de aparatosas e provocativas tatuagens, cujos temas e desenhos agridem a estética e o bom senso, e desses agressivos piercing, dois modismos que são fruto do uso equivocado e mal elaborado de uma cultura indígena, aborígine.

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

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  • Alberto, os seus artigos me remetem sempre a um livro de contos de um dos meus escritores preferidos : F. Scott Fitzgerald. Ele também sabia descrever como poucos uma determinada época, no caso , a própria em que vivia. Já você, discorre com habilidade sobre várias épocas , emoldurando-as com fatos , pessoas , música, cinema e literatura compondo um painel rico e verdadeiro. Faz o leitor entrar numa “ máquina do tempo” e reviver ou conhecer o passado. Lembrar da camisa fio Helanca, foi demaisAbc,

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