Valério Mesquita

Roberto Carlos gravou entre grandes sucessos, uma composição que dizia: “vou ficar nu para chamar sua atenção”. E não há melhor atitude de atrair curiosos e curiosas do que um homem ou mulher se despirem para delírio da galera. Na Antiguidade, tanto a do mundo greco-romano como a das civilizações afro-asiáticas, os deuses eram representados por carrancas, fetiches, exibidos nos ritos religiosos, consuetudinários para a diversão do povo. Fazer ou construir mungangas era o forte daqueles tempos. Até no chamado Novo Mundo (Américas do Norte e do Sul), os hábitos e costumes dos ancestrais também chegaram para sucesso dos medíocres e exibidos.

Nos períodos renascentistas e modernos as representações burlescas invadiram os teatros do mundo desde a era de William Shakespeare. A caricatura do humano ganhou força e criatividade. Hoje, o próprio ser perdeu a sua auto-estima, coisificando-se. Projetando a sua imagem satiriza-se comicamente para conseguir votos. Puro masoquismo. Ora, arremedando outrem, ora reproduzindo deformações caracterológicas, submete ao ridículo clamoroso a sua semelhança pelo aspecto ou pelos gestos extravagantes. As publicidades administrativas dos governos transformaram-se num verdadeiro desfile grotesco e surrealista, reveladores mais de um submundo bufão do que real, mórbido do que político.

O Congresso Nacional instado pelo população civil aprovou a Lei da Ficha Limpa aplicada na última eleição pelos órgãos da justiça eleitoral. Higienizou, de certa forma, o registro de candidaturas de gestores públicos que tiveram suas contas rejeitadas. Saneou em parte o zoológico político brasileiro mas deixou viva uma fauna perigosa que denigre hoje a atividade democrática e partidária no país através da estampa televisiva com reflexos negativos dentro e fora da nação. São os canhestros e desengonçados candidatos que, a começar dos partidos que admitem o lançamento, a justiça eleitoral oferta o registro. Não possuem nenhuma chance de eleição e em nada contribuem para o processo de reeducação política do povo.É a turma da liminar. A ficha é suja mas a liminar “honestiza”.

O brocardo “quem ama o feio; bonito lhe parece” seria o lema que anima os feiosos? Não. É a política brasileira que se tornou risível, digna de escárnio, por única culpa dos seus próprios protagonistas, há décadas. Na vitrine dos programas eleitorais, semelhante a nudez da música do rei da “jovem guarda”, a composição “O Feio” (também gravado por ele), enlouqueceu a mídia só para chamar a atenção e chocar pelo inusitado, o burlesco  ou por determinada imbecilidade de protesto. O pior é a impressão que fica gravada na mente dos eleitores, dos jovens, dos estrangeiros, que entenderão a política nacional como fonte de lavagem de dinheiro, mensalão, propinódromo, corrupção e palco de palhaços, saltimbancos, histrões e bufões. Muitos são iludidos e induzidos ao triste papel só para captar a audiência do expectador, tal como se fosse, “a praça é nossa” ou a “escolinha do professor Raimundo”. A hora soou para que uma lei complementar (C.N.J, Congresso e TSE), possa supri a lacuna da Ficha Limpa a fim de exigir dos partidos um grau mais elevado de politização e seletividade dos candidatos. Política e voto devem ser encarados com seriedade ou não? Após o mensalão, a lava jato e outras operações pelo Brasil a fora, é preciso respeitar o voto da população contra os marginais da política que se aproveitam das facilidades (brechas) da legislação eleitoral.

Valério Mesquita – Escritor – Mesquita.valerio@gmail.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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