(*) Rinaldo Barros

“…Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta; que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda…” (Cecília Meireles, in “Romanceiro da Inconfidência”)

A conversa de hoje tem foco no provável (?) colapso da “sociedade de mercado”.

A pergunta que não quer calar é: “é possível combinar a sociedade complexa, urbanizada, que necessita de regulamentação e controle para sobreviver, com a liberdade individual? ”

A ficção da “sociedade de mercado autorregulada” que desmorona agora na Grécia, na Espanha e em outros países europeus, é resultado de um processo que vem de vários anos. Talvez suas primeiras manifestações tenham surgido nas periferias do sistema capitalista.

Há algo da “promessa” do ideário liberal que, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial, parece estar desvanecendo-se no ar: suas instituições fundamentais atravessam uma fase de muito desprestígio, o que antecipa um próximo período de rearranjos organizacionais, culturais e ideológicos de diversas magnitudes, sem que possa especular-se ainda sobre seus tempos de desenvolvimento nem sobre suas direções.

O que está em debate é, no fundo, que a sociedade não fique como refém exclusivo do mercado, ou seja, que exista alguma forma de “intervenção social” sobre o mesmo, de regulação: que, na escala de prioridades, a sociedade venha antes que o mercado, e não o contrário.

Se agora, esta falácia da “sociedade de mercado autorregulada” se fratura na Grécia e na Espanha, esse movimento é resultado de um processo que vem de vários anos e de outros países.

Uma crise econômica, que não anula o sistema de um instante para outro, muito pelo contrário; mas que afeta a legitimidade e a autoridade de suas instituições no médio e longo prazo.

O liberalismo/neoliberalismo dá mais um passo em direção ao colapso; como modelo organizador da sociedade volta a evidenciar sua incapacidade de modo contundente.

Nisso consiste, a atual crise do capitalismo: a sucessão de “indignados” não faz mais do que exibir o fracasso de sua proposta civilizatória, a inconsistência de seus princípios, a contradição de suas instituições.

Todavia, é fundamental que as demandas de intervenção e regulação desta crise não se resolvam autoritariamente; que se preserve os governos sob regimes democráticos de Direito.

Nunca é demais relembrar que, assim como o fascismo, o socialismo foi também um resultado da incapacidade da economia de mercado em estabelecer ligações entre todos os países.

A Revolução de 1917, foi uma saída imposta à Rússia mais pela situação mundial, do que pela convicção dos revolucionários vitoriosos. Prova disso é que o estabelecimento do socialismo em um só país era contrário à própria teoria marxista.

É, portanto, fundamental que se busquem soluções econômicas que preservem a Democracia, ainda que eivada de defeitos.

Mais do que isso. A meu ver, o ser humano deve ter consciência de que a liberdade de que pode desfrutar é a liberdade possível, isto é, limitada pela sociedade.

Este conhecimento deve ser algo similar ao conhecimento da morte.

Diante do inevitável, a solução é não gastar energias contra o impossível, mas usá-las para obter tudo o que seja positivo e realisticamente possível.

Para terminar, fica aqui um grito de alerta:  a Democracia depende de uma sociedade civil educada e bem informada cujo acesso à informação lhe permita participar tão plenamente quanto possível na vida pública da sua sociedade e criticar funcionários do governo ou políticas insensatas e tirânicas; depende de acesso mais amplo possível a ideias, dados e opiniões não sujeitos a censura.

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

 

 

Ponto de Vista

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