FUNDO DO POÇO –

Vou usar e abusar de plágios neste artigo, começando por Rui Barbosa, com sua mais famosa frase extraída de exemplar de “Obras Completas”, adequando-a para a nossa realidade:

“De tanto ver triunfar a roubalheira, de tanto ver prosperar a impunidade, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos ímpios, o cidadão chegará a desacreditar dos políticos, rir-se da justiça e a ter vergonha de ser brasileiro.”

Já havíamos visto de tudo no nosso país, porém, tungar pensionistas do INSS foi atingir o fundo do poço da desonestidade. A maldade desmedida praticada contra idosos, muitos deles doentes sem recursos nem entendimento de como proceder ao verem encolher suas já minguadas receitas mensais é de cortar corações.

Isso mesmo. O crime foi cometido por associações e sindicatos criados para defender os direitos de aposentados de diferentes categorias profissionais, sendo os mais afetados os residentes no campo, justamente, àqueles com mínimas chances de obterem ajuda ou esclarecimentos de como proceder para reaver a quantia roubada.

Já vimos de tudo no Brasil pós redemocratização: “Mensalão”, “Petrolão”, “Máfia dos Sanguessugas”, Anões do Orçamento”, “Navalha na Carne” e tantos outros que este espaço não acomodaria o número da roubalheira. Porém, o campeão da ladroagem ficou conhecido como, “Operação Lava Jato”, encabeçado pelo Grupo Odebrecht, segundo a Polícia Federal, o maior caso de corrupção da história do país.

A indignação do brasileiro é passageira. Basta surgir um novo escândalo e logo cai no esquecimento o anterior.  Frase jocosa atribuída a Carlos Lacerda – “Revolução no Brasil é como casamento na França, não existe derramamento de sangue” – traduz bem o sentimento pacato da nação e a facilidade de acomodação do povo ante todo tipo de desmando sem punição.

Como se não bastasse tanta indignidade, Fernando Collor de Mello, ex-presidente da República, após sofrer impeachment em 1992, por corrupção e desvio de verbas públicas conseguiu arrastar o processo durante longos 33 anos e, uma vez condenado, foi aproveitar sua sentença aboletado na própria cobertura de R$ 9 milhões com vista para o mar em Maceió, Alagoas.

A certeza da morosidade nas condenações e a facilidade de corromper agentes públicos acredito sejam duas das razões para o crescimento da corrupção e da violência em nosso país. Plagiando, Shakespeare, na peça “Hamlet”, após substituir no texto “… reino da Dinamarca”, evidencia-se bem o nosso momento político: “Há algo de podre na República do Brasil”.

O trabalho desenvolvido por nossa Polícia Federal merece o reconhecimento do brasileiro, tanto pela competência nas investigações quando pela imparcialidade nos resultados apresentados, fazendo jus ao texto do juramento da instituição de “Defesa da Sociedade e Constituição”, “Luta contra a Criminalidade”, Preservação do Estado Democrático de Direito”, “Probidade e Denodo” com o “Sacrifício da Própria Vida”.

Ante tanta corrupção e impunidade encerro esta leitura, expondo minha dúvida com frase adaptada do filme de Cacá Diegues: “Será que Deus ainda é brasileiro?”

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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