FARRAPO –

Farrapo era o apelido de João Batista, um garoto órfão de pai e mãe, criado por parentes muito pobres. Suas roupas eram verdadeiros farrapos, dados por alguma alma caridosa. Por isso, os colegas lhe deram esse apelido.

Muito criança ainda, Farrapo se acostumou a sair de casa todas as manhãs, para mendigar o pão de cada dia. Ficava perambulando pelas ruas, levando no ombro uma velha mochila, onde colocava as esmolas recebidas.
Ficava deslumbrado, ao ver os meninos ricos da cidade, brincando nos parques e nos jardins de suas casas, com seus brinquedos maravilhosos. Eram coisas que ele nunca tivera, nem mesmo em sonho.

Parava para assistir as brincadeiras, evitando ser visto, e procurando sempre se esconder atrás de alguma árvore.
Ele via a meninada brincando com bolas, velocípedes, carrinhos, cavalos de pau e outros brinquedos. Ouvia, uma vez por outra uma das crianças gritar:

– Babá! Babá!

Farrapo imaginava que “Babá” também fosse um brinquedo, que os meninos estavam pedindo.

Numa certa manhã, quando a alegria da meninada se espalhava sobre o gramado de uma casa muito rica, Farrapo se aproximou e ficou apreciando a brincadeira. Enfiou o rosto entre duas plantas, sem que ninguém o visse, e permaneceu olhando aquela felicidade, que estava tão perto dele.

De repente, a filha dos donos dessa casa rica, que havia se afastado das outras crianças, avistou-o entre as trepadeiras, dele se aproximou e perguntou:

– Onde está sua Babá?

Farrapo respondeu:

-Eu não tenho. Não tenho brinquedo nenhum …

E a menina rica, que estava com um livro de estórias nas mãos, perguntou-lhe:

– Quer pra você? Ele tem muita figura bonita!

– Eu quero!… Respondeu Farrapo, com os olhos brilhando de felicidade.

E a menina rica lhe entregou o livro, sem que ninguém percebesse.

Farrapo saiu em disparada, correndo velozmente e apertando contra o peito o único brinquedo da sua vida. Um presente, que aquela menina rica lhe havia dado. Ao chegar à sombra de um frondoso cajueiro, por onde sempre passava, ele sentou-se no chão, fechou os olhinhos, e, abraçando fortemente o presente recebido, murmurou, cheio de felicidade:

– Ganhei uma “BABÁ!!! É a minha BABÁ!!!

Deitou-se ali mesmo, cheio de felicidade e adormeceu, certo de que o seu presente era a Babá, o primeiro brinquedo que estava ganhando em sua vida!

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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