EU VIVI A BOSSA NOVA – 

Neste ano de 2021 são passados exatos 56 anos da decretação do fim da Bossa Nova, o movimento mais influente da história da música popular brasileira. Para os jovens de agora que nunca ouviram falar ou simplesmente desconhecem a importância de tal estilo musical do século passado vale a pena retroceder no tempo.

O novo modo de interpretar canções com uma batida diferente de violão extraindo sonoridade atípica, surgiu em agosto de 1958 com o compacto simples do violonista baiano João Gilberto. Trazia numa das faces a música Chega de Saudade (Vinícius de Moraes e Tom Jobim) e, na outra, Bim Bom, autoria do próprio intérprete.

O estilo insosso de cantar baixinho em tom coloquial, com letras abordando temas leves, no entendimento de críticos consistia num modismo passageiro e sem futuro. Na crista dessa nova onda embarcaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Nara Leão, Roberto Menescal, Luiz Eça e outros. A música Garota de Ipanema, de Tom e Vinícius, lançada em 1962, alavancou internacionalmente o novo maneirismo musical brasileiro.

Ironicamente, Vinícius de Moraes, um dos pilares da Bossa Nova, lançaria também a música determinante do fim do movimento. Ele e Edu Lobo compuseram, em 1965, Arrastão. Era o fim da Bossa Nova e o começo da nova tendência interpretativa: a MPB. A outra nova onda musical se consolidou com as músicas Disparada e a Banda, de autorias, respectivamente, de Geraldo Vandré e Chico Buarque de Holanda.

A Bossa Nova era uma coisa leve. Segundo Nara Leão: “…enquanto nas músicas da época prevaleciam letras dramáticas, a Bossa Nova veio com aquele negócio do amor, sorriso, flor, sol, céu…”. Foi-se a Bossa Nova, mas ficaram músicas inesquecíveis como Samba de uma Nota Só, Lobo Bobo, Dindi, O Barquinho, Desafinado e Insensatez. Acabou-se o movimento, mas escaparam as lembranças do Beco das Garrafas, do Nick Bar e do Little Club. Findou uma época, mas preservamos a suavidade das vozes de Nara Leão, Sylvia Telles e Maysa Matarazzo.

Eu vivenciei o auge da Bossa Nova e estou a cavalheiro para comparar aquele estilo musical com a variedade de padrões sonoros da atualidade. Percebo a exata dimensão da pobreza musical que tomou conta do país. Não adianta citar nenhum deles porque faria injustiça à ruindade dos demais – nada contra a boa receptividade dos atuais gêneros musicais às camadas de brasileiros que os apreciam, afinal gosto não se discute, né!

Li, em algum lugar, comentário do jornalista Eduardo Guimarães afirmando que “…depois do Samba, provavelmente, a Bossa Nova é o gênero que mais representa o Brasil no exterior quando se fala de música”. É verdade! Não foi pela simpatia nem pelos “belos olhos” de Tom Jobim que Frank Sinatra interpretou as canções dele.

Mas, Chega de saudade! A realidade é que o mundo mudou, e o gosto de alguns, também. Ainda bem que nos é dado o direito de escolher o que ouvir, sem deixarmos transformar nossos ouvidos em repositórios de anomalias musicais. Essa é a razão de eu preferir ficar com um “…dia de luz, festa de sol, num barquinho pelo mar, que desliza sem parar, onde tudo é verão e o amor se faz em dias tão azuis…(letra de O Barquinho) ”. Falei!

Justa homenagem instituir 27 de janeiro como o Dia Nacional da Bossa Nova. Bem mais racional do que o Dia Nacional do Macarrão, criado para ser comemorado no dia 25 de outubro. Se bem que a batida da Bossa Nova até que combina com uma boa macarronada!

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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