ENTRE VIVER E CONVIVER –

 “Viver é fácil, conviver é que são elas”, assegura o adágio popular. O dito, porém, não prevê o que seja conviver em tempo de quarentena. Refiro-me a casais solitários obrigados a coabitar, durante meses, trancafiados num ambiente comum e restrito. Por melhor boa vontade que tenham, fácil não é.

Nesta quarentena não é sem razão vermos multiplicados nas resenhas policiais casos de violência doméstica com agressões e feminicídios, enquanto nas varas da Justiça ocorrem divórcios e separações conflituosos.

Menos danosas são as discussões matrimoniais onde casais permanecem amuados aprisionados na segurança do lar no salvaguardo da saúde, por semanas adentro, contudo sem se molestarem fisicamente.

O pior que se extrai de um isolamento forçado é o descontrole emocional decorrentes da ansiedade, da depressão e da angústia, que nos induzem a reclamações de atitudes ou procedimentos antes desprezadas e até despercebidas no cotidiano do casal. Ao reclamar, clamamos duas vezes pela negação, efeito nada positivo numa quarentena onde a vida é o que está em jogo.

Tenho lido e ouvido diferentes versões acerta da dificuldade do convívio entre casais neste momento de enfrentamento de uma crise sanitária de proporções alarmantes, insuflada e inflamada por dois outros agravantes: economia em queda e política tumultuada.

Uma dessas bizarrices envolveu casal cuja madame é de conhecido trato difícil – um porre, segundo os íntimos. Durante a quarentena o marido constatou a dura realidade. Diuturnamente ao lado da enfezada, achou um meio de a evitar pelo menos à noite. Optou por dormir na cama em posição contrária à dela, cada qual com os pés na altura do rosto do outro. Sentiria o chulé, mas não lhe veria o rosto. Arre!

Solange e Ademar eram vistos, pelos amigos, como o casal perfeito pela harmonia e bem-querer que aparentavam. Ambos trabalhadores, saiam cedo de casa retornando à noite. Com a quarentena a rotina dos dois mudou. Inez continuou com a postura de estar sempre arrumada e asseada. Já Ademar modificou a sua conduta partindo para o desleixo.  Acordava e se mantinha de pijama, às vezes, por dias seguidos.

Aquele procedimento incomodava Solange, mas, a duras penas ela suportava. O caldo entornou quando Ademar deixou de tomar banho contrariando um hábito de três duchas diárias. Após uma série de apelos sem eco, Solange, num descuido de Ademar, picotou a golpes de tesoura todo o enxoval de pijamas do marido. Os vizinhos acudiram aos gritos de socorro dela, para não chegarem às vias de fato.

De fazer pena foi o ocorrido com os jovens casados de novinho. O presente de núpcias do pai da noiva foi o belo apartamento que a esposa decorou com carinho. O monograma MM de Maísa e Milton, estampado nas roupas e louças do casal, exibia o refinamento do ambiente. Certo dia os vizinhos ouviram gritos, xingamentos e barulho de quebradeira que só cessou com a presença dos pais dos jovens no local.

Soube-se depois que a esposa flagrara Milton numa conversa comprometedora no celular com a ex-noiva, razão do início da discussão. Porém, o que fez o caldo entornar, foi a vingança de Maísa ao revelar que o filho que trazia no ventre não pertencia ao marido. O genitor era o irmão mais velho dele. Hoje, Maísa mora sozinha no apartamento e Milton na companhia dos pais. Coisas de quarentena.

E ainda tem quem arrisca dizer que conviver é fácil.

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

Ponto de Vista

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  • Um dos efeitos da pandemia foi o aumento elevado do índice de divórcios.

    Para alguns casos efeitos nefastos, para outros benéficos em razão de falência do relacionamento que já havia acontecido, vindo a pandemia apenas propiciar o empurrãozinho para colocar as coisas no seu devido lugar.

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