Violante Pimentel

Em política, distingue-se como “Eminência Parda” o poderoso assessor “de fato” ou de direito, ou o conselheiro, que atua “nos bastidores” e manipula o governante, como se faz com  marionetes.

“Eminência Parda” é aquele sujeito que, mesmo não sendo o governante supremo de tal reino ou país, é o verdadeiro poderoso. Age, muitas vezes, por trás do soberano legítimo, manipulando-o, com prestígio até para destituí-lo do poder, caso seja contrariado nos seus planos.

A “Eminência Parda” pode se utilizar de qualquer tipo de poder, para exercer o seu próprio poder, seja ele militar, econômico, religioso ou político. Atua nos bastidores  e é quem domina aquele que detém o poder. Permanece na sombra, sem aparecer em demasia.  Mas, através de conchavos e negociações, consegue força suficiente para influenciar, de forma direta, as decisões daqueles que estão legitimados no poder.

Essa expressão foi usada na França, originalmente, referindo-se a François Leclerc du Tremblay, o “braço direito” do Cardeal Richelieu. Leclerc era um frade capuchino, que ficou famoso por seus trajes beges (a cor bege foi denominada “parda”, na época).

O título de “Sua Eminência” é usado para tratar ou referenciar um Cardeal da Igreja Católica Romana. Embora Leclerc nunca alcançasse o posto de Cardeal, aqueles ao seu redor se dirigiam a ele como tal, em deferência à influência considerável desse frade “pardo”. E era chamado “Sua Eminência, o Cardeal”.

François Leclerc du Tremblay, conhecido como “O Frade José“, (1577 – 1638), era a “Eminência Parda” do Cardeal Richelieu.

Era o filho mais velho de Jean Leclerc du Tremblay, presidente da Câmara de Petições do Parlamento de Paris e de Marie Motier de Lafayette, sua esposa. Recebeu uma educação clássica cuidadosa e, em 1595, fez uma longa viagem para a Itália, de onde voltou para abraçar a carreira das armas. Serviu durante o cerco de Amiens, em 1597, e depois tomou parte em uma embaixada extraordinária em Londres.

Em 1599, o Barão de Mafflier – como era conhecido – renunciou às vaidades do mundo e entrou para a Ordem dos Capuchinhos de Orléans. Consagrou-se às coisas da religião, com devoção exemplar e tornou-se um pregador e reformador de renome. Em 1606, prestou assistência a Antoinette d’Orléans, religiosa da Abadia de Fontevraud, quando esta fundou a Ordem das Filhas do Calvário, e escreveu uma obra de devoção em sua intenção. Seu zelo catequizador levou-o a enviar missionários aos países huguenotes para arrancá-los de sua heresia.

Entrou para a política, por ocasião da Conferência de Loundun: apoiado pela rainha Maria de Médicis e pelo legado do Santo Padre, opôs-se aos galicanos, que possuíam o favor da nobreza, e conseguiu convencê-los a abandonar suas tendências separatistas. Em 1612 começaram suas relações pessoais com o Cardeal Richelieu, mantidas de maneira bastante fiel e que alimentariam a história e a lenda do Cardeal e de sua “Eminência Parda” (alusão à cor do hábito dos Irmãos Capuchinhos e ao título de “eminência“, reservado aos cardeais – promoção por justiça de que a morte o privou). Suas relações, aliás, jamais foram totalmente esclarecidas.

Dessa forma, esse monge austero tornou-se um promotor de guerras, guardando rigor em sua vida pessoal, e consagrando-se à diplomacia e à política.

Sofreu um primeiro derrame cerebral na primavera de 1638 e morreu poucos dias depois, de um segundo ataque.

O Cardeal Richelieu escreveria: “Perco minha consolação e meu único socorro, meu confidente e meu apoio.

O Cardeal Richelieu exercia influência direta sobre o rei, mas ele próprio era influenciado pelo Frei José. A “autoridade” que este exercia sobre Richelieu fez dele uma das pessoas mais poderosas da França, apesar de não possuir cargo oficial.  Pela importância que tinha e pelo hábito cinzento que vestia, passou a ser conhecido como Eminence Grise (eminência cinzenta, daí eminência parda).

Em contrapartida à “Eminência Parda”  existe a figura  do “pau  mandado”, verdadeiro serviçal da “Eminência Parda”. São os próprios governantes, que, por incapacidade própria, deixam-se dominar pela “Eminência Parda”.São pessoas sem  expressão própria, incapazes e arrogantes, que se deixam influenciar pela “Eminência Parda”, porque somente assim poderão estar à frente do poder.

A Políticalha é cheia de exemplos. Não se sabe quem  é mais  fraco no exercício do poder: O que manda e não aparece – “Eminência Parda”-,  ou  o que aparece, mas não manda –  O “Pau Mandado”.

A “”Eminência Parda” representa o líder do próprio líder oficial. Mas só age em sigilo. Os dois são possuidores de inteligência privilegiada. Quando agem em conjunto, tornam-se imbatíveis.

Todo governo conta com uma “Eminência Parda” que  o domina,  transformando-o em uma espécie de canoa. A “Eminência Parda” é o fiel Timoneiro. É quem, “nos bastidores”, comanda o barco. Navegar é preciso.

“Eminência Parda” é uma expressão que se propagou através  dos séculos.  Diante da grande crise política que vive o Brasil, perguntamos:  Quem será o novo líder? E quem será o novo Timoneiro?

Violante PimentelEscritora

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