Em áreas de favela, onde as construções são mais densas, há pouca circulação de vento, escassez de árvores e grande presença de materiais que absorvem calor, como lajes e telhas metálicas, o impacto tende a ser maior.
Além dos efeitos na saúde, o calor também pesa no orçamento das famílias, segundo o estudo. O uso constante de ventiladores e geladeiras sobrecarregadas eleva o consumo de energia elétrica em domicílios que, em muitos casos, já enfrentam dificuldades financeiras.
De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, São Paulo tem cerca de 11,5 milhões de habitantes, dos quais mais de 1,7 milhão vivem em 1.359 favelas. Embora essas áreas ocupem cerca de 4% do território da cidade, concentram mais de 15% da população.
Nessas regiões, as temperaturas de superfície ultrapassam frequentemente os 40 ºC, como mostra um mapa interativo produzido pelo Cefavela. Confira o mapa neste link. Os resultados foram publicados inicialmente no jornal Nexo.
Calor de 47ºC
O contraste observado entre Paraisópolis e Morumbi não é um caso isolado. Em Heliópolis, outra das favelas mais populosas da capital, as temperaturas de superfície passaram de 44 ºC nos dias mais quentes do verão.
Já no Capão Redondo, também na Zona Sul, estão quatro das dez favelas mais quentes da cidade, com registros próximos ou superiores a 47 ºC, como a Jardim Capelinha/Nuno Rolando, Basílio Teles e Parque Santo Antônio.
Naquele verão, de 2024 e 2025, a maior temperatura registrada em uma estação meteorológica aconteceu em fevereiro deste ano, com 34ºC.
O verão 2025/2026, porém, já superou essa marca. A capital bateu o recorde de calor para o mês de dezembro no domingo (28), com 37,2ºC. Antes, as duas maiores marcas da história para último mês do ano ocorreram no dia do Natal e na sexta (26).
Por outro lado, segundo o estudo, comunidades localizadas próximas a represas ou áreas verdes apresentaram temperaturas significativamente mais baixas.
O Jardim Apurá, próximo da represa Billings, registrou 23,7 ºC, enquanto o Alto da Riviera B/Jardim Guanguará, na região da represa de Guarapiranga, marcou 23,6 ºC.
Planejamento urbano
Para os pesquisadores, os dados reforçam que o calor não é apenas um fenômeno climático, mas também resultado das escolhas de planejamento urbano.
Segundo o estudo, soluções baseadas na natureza — como corredores verdes, parques, árvores, jardins de chuva, telhados verdes e hortas comunitárias — podem funcionar como um “ar-condicionado natural” das cidades, ajudando a reduzir as temperaturas e aumentar a resiliência urbana diante das mudanças climáticas.
Para os autores, incluir o calor como um critério de inadequação habitacional é fundamental para enfrentar a desigualdade nas grandes cidades.