Adauto José de Carvalho Filho

O título deste artigo, embora gramaticalmente incorreto, é refrão de uma música conhecidíssima e nos remete ao tema central deste artigo que é a tendência do brasileiro de sempre pagar as contas do governo. Quando tudo está bem, contas para financiar o desenvolvimento; quando tudo está mal, contas para sair da crise e até quando há um abalo nas compadrias dos três poderes a conta já tem endereço certo.

O povo.

O povo?

Sim amigo, eu, você e a sociedade. O povo é o grande caixa que cobre as irresponsáveis gastanças do governo. Há uma citação, muito repetida por Everardo Maciel, ex-Secretário da Receita Federal do Brasil que acho inteligente: “quem determina o quanto o povo vai pagar de imposto não é a receita, mas a despesa”. Enquanto o governo não se conscientizar de que governar é atingir o bem social e aos objetivos do Estado se limitar, o povo pagará mais e mais impostos.

O governo, nas três esferas da República, maquiavelicamente, comemora recordes contínuos e exorbitantes de arrecadação. A gastança não tem limite como é ilimitada a capacidade do governo de usurpar o parco dinheiro do cidadão brasileiro. Mete a mão e nem pede desculpas. Aliás, pedir desculpas à sociedade, verdadeira dona do poder, é humilhante para governantes pífios. A sociedade não merece respeito. Sempre será o lema por trás dos falsos sorrisos dos falsos líderes. Para eles, a mentira e a enganação são mais úteis aos seus interesses pessoais e corporativos.

O Brasil vive a mais cruel crise financeira. Todos os sintomas de uma economia estagnada, falimentar e de quem é a culpa ninguém sabe, mas para quem vai pagar à conta todo mundo sabe, aliás já começou a a pagar com aumento de tributos. Tungaram a Petrobrás no mais desvergonhado esquema de propinas. Só não comeu o sino  (se é que por lá tem um sino ou não roubaram o sino) por quem tem a boca para baixo. A empresa perdeu metade do seu valor, alguns privilegiados enricaram como os grandes gangsteres e ninguém sabe de nada, ninguém fez nada. Nem o tamanho do rombo nos cofres manchados da Petrobrás se sabe, mas o povo já começou a pagar.

O governo não se impõe pelas suas políticas de gestão e estratégicas para minimizar a crise internacional que ainda perdura ou programas governamentais estratégicos, mas pela irresponsabilidade fiscal. Não importa o quanto se deve ou o tamanho do rombo a ser feito, enquanto houver um povo otário como o brasileiro tudo será pago, simplesmente pago,  com o seu dinheiro para calar qualquer movimento de oposição. É mais simples e mais barato. Sempre foi assim e, enquanto o povo não se negar, será assim. Para tanto, as burras do tesouro nacional estão sendo cuidadosamente alimentadas pelo pagamento dos tributos pela sociedade. É um sem fim de obrigações impostas ao cidadão para financiar o Estado e as burradas dos governantes.

Burradas até que ainda se justificam e se corrigem. Roubo dói, machuca, espezinha e, mesmo assim, o povo não acorda, não se levanta, não toma a digna atitude de trocar os governantes. Neste aspecto eu sou radical. Quem exerceu qualquer tipo de cargo público nos últimos trinta anos tem culpa no cartório. Por ação ou omissão, mas igualmente culpado. Quem cala diante dos descalabros dos governantes e que teria a missão constitucional de se contrapor, erra mais dos que os que nos assaltam, roubam ou, simplesmente, são irresponsáveis.

É o ensurdecedor silêncio da conivência.

Hoje, o Brasil é um trem descarrilhado e sem maquinista. E estamos correndo o risco que um descarrilhamento de um trem provoca. O maquinista e os donos do poder na empresa férrea estão procurando alguém para por a culpa e pagar a conta e nem precisa muito esforço. O povo permanece acreditando na falha mecânica. E o que vemos: corrupção, muita corrupção que, de tão sistêmica, já cabe o risco da generalização.

Na palhaçada de mais um ajuste fiscal de brincadeirinha já foram aumentados os impostos. Como sempre. E as despesas contingenciadas. Aí está a palhaçada. Já foram aumentados o fundo partidário (para eles pode), o vencimento dos servidores do judiciário (para eles podem), aprovada a construção de um “shopping” como anexo do Congresso (para eles pode), e outras coisitas mais que para eles pode. Em algumas semanas, como forma de aprovar medidas onerosas para o povo, vem as emendas parlamentares. É o auge da farra com o seu dinheiro.

O Brasil é tão desorientado que o termo “emendas parlamentares” é totalmente inapropriado. Emendas são instrumentos próprios dos que exercem o parlamento. Cada membro do legislativo tem a competência e, por vezes, a obrigação, de fazer emendas responsáveis ao orçamento. Podem mudar todo o orçamento se quiserem, mas, pelas terras cabralinas, como forma de harmonizar a pilantragem, foi estabelecido um valor para as emendas parlamentares. É o preço per capita e a moeda de troca. E atingem a todos os P que, anualmente, nos mandam para a PQP… E nós vamos!

Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Pedagogo, contador, Bacharel em Direito, escritor e poeta

Ponto de Vista

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