COSTUMES POLÍTICOS –

Marcelo Fernandes é um amigo de antigas jornadas. Não é comum nos avistarmos pelos vãos e desvãos da vida natalense. Mas sempre que nos encontramos, o cumprimento recíproco é irreprimível: saudações pessedistas!

Essa frase evoca o velho PSD de guerra do tempo de Túlio Fernandes, Alfredo Mesquita, Theodorico Bezerra, Lauro Arruda, Israel Nunes e tantos outros que seria difícil mencionar todos. Era o partidão rolo compressor cujo hino tinha uma estrofe assim: “PSD nunca foi nem será vencido”.

O major Theodorico Bezerra, seu presidente, conta Marcelo, promovia vaquejadas políticas naquele tempo a fim de aglutinar forças eleitorais e constituía a mídia rural do partido. Na região do Trairi o velho cacique tinha um boi brabo de vinte e cinco arroubas, turrão, que ninguém derrubava nas vaquejadas. E ganhou logo um apelido: PSD.

Esse era o espírito dos políticos e dos militantes daquela época, tão bem realçado por Marcelo Fernandes na memorização dos atos e fatos de um mundo partidário desaparecido. De contraponto, registre-se, havia uma UDN hábil, oposicionista, vigilante com uma lanterna de popa. Na rotatividade do poder, a UDN de cima e o PSD de baixo, esse último exercia com denodo e desassombro a Oposição. E foi assim inclusive à época dos governos autoritários. Hoje, o espírito desses antepassados desapareceu. Na plenitude do regime democrático, quando se tem um ex-metalúrgico na Presidência da República, os partidos se esfacelam, se estiolam e se misturam. Até parece um Arenão. Ou um navio com passageiros além da sua capacidade com risco de ir a pique antes de chegar ao próprio porto eleitoral de 2018. Mas, política é carrossel. Longe vai o tempo do PSD/UDN. A propósito, o ex-vereador mestre Pedro Luiz de Araújo, refratário à torrente de adesões ao governo municipal, anos atrás, preveniu o prefeito: “Doutor, tantos “piriquitos” assim numa quenga não tem “mio” que chegue”.

E para ratificar o contraditório dos tempos políticos de ontem com os de hoje, vale recontar aquela história do banquete de Catolé  do Rocha, onde o folclórico Mané Forte se intrometeu  no meio de toda a ilustre família Maia, sentando-se no  último  lugar  à  mesa. As mocinhas prendadas que serviam a refeição todas as vezes que chegavam perto de Mané Forte suspendiam a tigela. E assim aconteceu com as travessas de feijão, arroz, macarrão,  verduras,  frutas da estação, etc. Na hora de servir a tradicional farofa todos os convivas recusaram levantando levemente a mão. Aí sobrou para o adesista eventual Mané Forte, que teve o seu prato entupido de farofa. Não  contendo  a  indignação, Mané protestou: “Cuidado, menina, prá mim só tá chegando cereais…”. Ó tempos, ó costumes…

Valério Mesquista –  escritor  – ( Mesquita.valerio@gmail.com )

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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