CONVERSA DE PASSARINHO – 

Os pássaros falam com língua própria de sua espécie, dialetos regionais e sotaques individuais. A pega, por exemplo, é poliglota, costuma cantar à maneira própria de outros grupos. As mídias sociais exibem papagaios que cantam o Hino Nacional, calopsitas que imitam trechos de ópera de Mozart e outras exibições que viralizam.

São Francisco, o padroeiro da ecologia, conversava com os pássaros. Há certa sacralidade na vida deles. Muita gente acredita que são mensageiros de Deus. Os cristãos simbolizam o Espírito Santo com uma pomba. Os anjos, por sua leveza e rapidez, são alados. A língua dos pássaros é mágica e mítica.

Sábios gregos e romanos, como, por exemplo, Esopo, Tirésias, Demócrito, entendiam a linguagem dos pássaros. Na fábula “O Caçador de Aves”, de Esopo, um pássaro diz ao outro: “fujamos!”

É imemorial a crença de pássaros usados para adivinhar o futuro. Seriam instrumentos indispensáveis aos oráculos. Também há aves de mau agouro como a sábia coruja, os nossos caboré e acauã, que, do saber popular, anunciam que Deus está lhe chamando. Do lado oposto, diz Luiz Gonzaga que a asa-branca é sinal de que a chuva chega no sertão.

O best-seller infantojuvenil “Harry Potter”, da escritora J.K. Rowling, faz da coruja um verdadeiro “pombo-correio”, enviando mensagens entre os bruxos.

A comunicação sonora dos passarinhos é, hoje, assunto de nobres universidades. Pesquisadores da Universidade de Oregon comparam a fala humana ao canto dos passarinhos, uma vez que ambas as espécies ensinam os filhotes a se comunicar. Reconhece os diálogos de passarinho a tese de doutorado de Carlos Barros de Araújo, pesquisador da Unicamp, que teve como orientadores dois professores da nossa universidade, Jacques Villard e Luiz Octávio Machado.

Autores célebres escreveram sobre essas “conversas”. Shakespeare faz Julieta pedir a Romeu que permaneça enquanto ouvem a voz encantada do rouxinol, o madrugador. A sabedoria do corvo, de Edgar Allan Poe, faz a ave bater na janela e, pousado sobre o busto de Palas, garante a definitividade da morte da amada. Never more, never more, nunca mais, nunca mais. No cancioneiro popular, Marisa Monte canta que um passarinho conversa.

Câmara Cascudo, o inimitável sabedor dos animais, ironiza: o bem-te-vi só sabe dizer seu nome, mas, depois, nota que os bem-te-vis também sabem fazer duetos violinísticos. Sobre o xexéu, o Mestre percebeu que trauteava o seu vasto repertório.

Os passarinhos, diferentes dos humanos, sabem o que devem comunicar, quando e onde.

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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