COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE MOLEQUE – Antonio Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE MOLEQUE –

A ORIGEM

Existem algumas hipóteses sobre a origem da palavra moleque, mas, a que me parece mais sustentável, é aquela que atesta ser originada dos escravos africanos, que na linguagem quimbundo, “muleke”, significa um garoto, um filho pequeno.

Na língua portuguesa, o significado de moleque vem a ser garoto muito “traquinas”, menino muito “sapeca” e “levado”, além de denominar pessoa que gosta de fazer graça, quem é engraçado, adjetivo de quem faz brincadeiras, brincalhão.

Moleque ainda significa: menino que vive na rua; menino de rua.

Eu, não tendo sido menino de rua, ainda hoje, me considero, um moleque, em outras acepções, e acho que vou morrer assim.

COMPORTAMENTO DE MOLEQUE

Moleque, goza do que é feito errado e tira proveito dos defeitos, para fazer graça.

Embora já tenha sido mais, particularmente, sou um contestador de imbecilidades, e detesto escutar alguém discorrer sobre coisas absurdas, sem tirar um naco para gozação.

Por outro lado, é muito bom rir, achar graça, desde que não seja da desgraça alheia.

Disse Charles Chaplin: “É saudável rir das coisas mais sinistras da vida, inclusive da morte. O riso é um tônico, um alívio, uma pausa que permite atenuar a dor”.

COISAS DA MOLECAGEM

Eu, VIVI, essa figura de menino moleque, e, não tenho a menor preocupação com essa caracterização.

Essa, eu nunca esqueci.

Estávamos fazendo “molecagens”, na vizinhança, e, uma delas, era tocar a campainha das casas e correr.

Como nossas brincadeiras se repetiam, a dona da casa, “montando guarda”, nos surpreende, e diz: agora eu vi, seu moleque safado! Seu pai vai saber disso.

E eu respondo: moleque safado é a puta que pariu!

Daí, foi só esperar que ela “enredasse” à papai, o que, graças a Deus, não aconteceu.

OUTRAS COISAS DE MOLECAGEM

Perto da minha casa da Rua Mossoró, onde nasci e me criei – como se dizia antigamente – tinha, e ainda tem, uma igreja que chamávamos dos “protestantes”, ou dos “crentes”, que por estar sempre presente na minha memória, vez por outra, estou fazendo referência.

Os pastores faziam um barulho danado, transmitindo, pelos auto falantes, os cultos da igreja.

Embora incomodasse muita gente, poucos tinham a coragem de enfrentar os crentes, que perturbavam o silencio.

Pra “se vingar” entrávamos pelo terreno de “seu Bulhões”, e na época do são João, jogávamos “bomba de parede” na hora do culto e, “pernas pra que te quero”.

Era uma carreira só.

Aprendi, naquela época, a não gostar dos protestantes, termo que vem do século XVI, por conta do movimento liderado por Martinho Lutero, que pretendia a reforma da Igreja Católica.

Uma coisa que pouco se comenta é que o protestantismo – que por aqui chegou, trazido pelos holandeses, no primeiro quarto dos anos 1600 – assim como o catolicismo, é um dos ramos do cristianismo.

Agora, chamados de evangélicos, às vezes, até acho que eles se comportam com muito mais honestidade de viver, que os católicos, e são até mais confiáveis que esse papa Francisco, comunista e defensor de práticas que não condizem com a religião católica.

Portanto, veja como são as coisas. Hoje tenho muitos amigos evangélicos, que, diferentemente dos protestantes daquela época, não são as pessoas sectárias, que queriam, a todo custo, convencer, que o lado certo era o delas.

E os moleques? Moleques são pessoas livres. São pessoas de pensamento aberto.

EXPEDITO E A INTRODUÇÃO DO MOLEQUE NO SEXO

Embora, o título tenha característica de explicitude, não é redundância, partindo do que eu ouvi de Expedito, que me ligou quando eu já estava finalizando o escrito.

Expedito me pergunta: tá fazendo o que Dotô?

Digo a ele que estou escrevendo sobre coisas de moleque, inclusive sobre algumas das minhas molecagens.

Ele fala: o “Dotô” sabe, que na passage de minino pra rapaz, nus meus tempo de muleque, morei em Natal?

Falei que ele já tinha tocado no assunto, mas, sem detalhes.

Então, ele dizendo que não quer me atrapalhar, já vai falando: Dotô, naquele tempo, qui era muito diferente de hoje, num tinha facilidade do sexo.

Cum as namorada, se chegava a umas coisa boa, mais invés de sastifazer, atiçava.

Então conta que sua primeira experiência, foi com uma negra, bem novinha, que era a doméstica de um casarão no início da rua Mipibu, para quem entrava pela Av. Deodoro.

Diz ele, que, como um colega seu, da Escola Industrial, também morava lá, de noite, ia fazer os deveres de casa, junto com ele.

Como a sala onde estudavam ficava nos fundos da casa, já quase no quintal, junto ao quarto da doméstica, foi “uma apanha e uma entrega”.

Diz Expedito, que ela era tão pretinha, que, ao apagar a luz, se confundia com a escuridão, e ele tinha que ficar “cascaviando”, pra encontrar as coisas.

Ô tempo bom, Dotô.

Nunca pratiquei tanto istudo na minha vida, mais, das letra, num aprendi muito não.

ZEFINHA

Falei. Olha, Expedito, vou colocar esse nosso papo, no artigo.

E ele diz: mais homi!

E eu falo. E tem

mais, como eu não sei, se vou encontrar outra oportunidade, pra contar uma coisa que eu VIVI, muito parecida com essa sua história, vou aproveitar o mote.

Apois tá certo. Diz ele.

Lá vai. Começo a contar.

Fui colega de Iran Trindade, irmão de ivinho e de Ivan Trindade, este, casado com a minha irmã, Ana Lucia.

Eu e Iran, estudávamos juntos e, para a nossa felicidade, Zefinha – a doméstica mais bonita do pedaço, naquela época – foi se empregar na casa de Doutor Lauro, pai de Iran.

Expedito, veja bem. Assim como na sua história, o quarto de Zefinha, era próximo, quase pregado, ao quarto onde nós estudávamos.

Não deu outra, formamos um “triangulo amoroso”, sem conflitos.

Quando era a “minha vez”, Iran saia “de fininho”, levando a sua bicicleta “Mercsuisse”, levantando a roda traseira, para não fazer barulho com a catraca.

Só voltava, depois de “um bom tempo”, quando eu já devia ter concluído as “tarefas do estudo”.

Quando era a vez dele, simplesmente, não havia necessidade de fazer nenhum trabalho do colégio. Como “dono do campo”, ele dispunha dos horários.

Até recentemente, Iran gostava de contar essa história, cada vez que estávamos bebendo, e se divertia, respondendo às perguntas dos circunstantes, sobre o “modus faciendi” da triangulação amorosa.

Agora, como Deus lhe levou, ele deve estar me esperando, lá no outro lado, para quando eu chegar por lá, rirmos, desbragadamente, relembrando Zefinha.

Ou tempo bom, Expedito, quando a irresponsabilidade cabia nas nossas atitudes, e vivíamos cada momento de forma plena.

É isso mermo Dotô. Eu quero vê o qui esses minino de hoje, vão contá, daqui a uns ano.

E agora, vô drumí e sonhá cum as coisa boa du passado, quando eu tinha o luxo de sê muleque.

Tá certo, Expedito. Daqui há pouco, eu também estou encerrando as atividades de hoje.

Desligo o telefone.

O PÉ DE MOLEQUE – DOCE E BOLO

Essas histórias de moleque, me levam a lembrar do bolo, que, muito frequentemente, no interior, era encontrado nas mesas do café da manhã e do jantar, sendo presença infalível, nas festas juninas.

O “pé de moleque”.

Nas minhas andanças pelo Brasil, encontrei, o “pé de moleque” com diferente constituição.

Nas regiões Sul e Sudeste, o “pé de moleque” é um doce, feito com amendoim torrado, misturado com mel de rapadura derretida.

Esse doce artesanal, também é chamado de “quebra dentes” e “quebra queixo”, que nós do nordeste, chamaríamos de cocada.

Segundo informações, tem origem açoriana, onde era feito com mel de abelha, e a receita que lhe deu origem, chegou à Europa na idade média, levada pelos árabes.

Esclarecendo. As ilhas dos Açores, embora estejam quilometros distantes do continente europeu, é uma região autônoma de Portugal e é considerada Europeia.

Do bolo preto, que devido ao policiamento dos chatos de plantão, terminará se chamando “bolo afro descendente”, tenho, como informação, que sua origem é da Ilha da Madeira, e, nos meus tempos de menino, se constituía em comida típica dos festejos juninos.

Hoje, encontra-se, normalmente, nas padarias, em qualquer época do ano.

Ao ser trazido para o nordeste do Brasil, foi influenciado pela cultura indígena, onde a castanha de caju substituiu o amendoim, manténdo-se a rapadura para a produção do mel, e ao invés da farinha de trigo, foi adicionada a massa de mandioca fermentada e outros ingredientes, tipo cravo e erva-doce.

Nos velhos tempos, ainda era cozinhado envolvido em folha de bananeira.

Embora a cordialidade esteja se tornando rara, no interior ainda é comum que uma dona de casa ofereça pedaços de “bolo Preto” à seus vizinhos ou parentes, como sinal  de cortesia.

Concluindo, o que eu tinha para falar sobre o pé de moleque, e já encerrando, toca o telefone.

É Expedito, outra vez, e eu, admirado, pergunto: você não disse que ia dormir?

E ele fala: Dotô, é qui o sinhô falô em muleque e minha vizinha me mandô, um pedaço inorme de um bolo pé de muleque.

Já falei cum o cobradô do ônibus e ele vai levá pru sinhô amanhã.

Se lembre de ir buscá na garage da imprêsa, lá pelo meio dia.

Tâmo certo? Agora, eu vô drumi.

E eu também. Muito obrigado, Expedito.

Até mais vê, Dotô.

 

 

 

 

Antonio José Ferreira de Melo – Economista -antoniojfm@gmail.com

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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