COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE ANTIGAMENTE – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE ANTIGAMENTE – 

AMOSTRA

Conversando com Flavia Regina, a minha filha que trabalha com produtos para solução de problemas da pele e também como proteção contra o forte sol tropical, em especial, o nordestino, falamos sobre a pressão que, ainda hoje, é feita nos “representantes”, para obtenção de amostras de remédios.

Eu falei que essa mania de “conseguir amostra”, é nossa velha conhecida.

Nos meus tempo de menino, as amostras já eram usadas como “propaganda”, aliadas aos “reclames” que era a propaganda veiculada nas rádios ou difusoras.

As “miniaturas”, que eram os produtos em pequenas quantidades ou em tamanhos reduzidos, ofertados para que fossem testados e consequentemente, adotados como solução, eram chamadas de “amostra grátis”.

Também, era comum, quando íamos comprar qualquer coisa, pedir uma “amostra”, para poder testar o sabor ou mesmo levar, por exemplo, um pedaço do tecido para comparar com o queríamos fazer: a complementação ou a composição.

TEM MENOS?

Pedir “um menos”, também era coisa obrigatória.

Não se comprava nada sem antes “regatear” o preço.

Chegando na Europa, me deparei com uma dificuldade.

Cada vez que eu ia comprar um produto e perguntava: à vista, fica como? Qual é o desconto? Quanto diminui no preço? Não faz um menos?

O vendedor, só faltava me botar pra fora da loja, apontando para as placas que estavam expostas nas vitrines, que diziam: PREÇO FIXO, seja lá em qual língua fosse.

AMARRADO

Dizia-se que, “amarrado”, sinônimo de “mão de vaca”, era aquela pessoa, que embora “tivesse boas condições financeiras” não gastava dinheiro com facilidade.

Chamava-se também de “pão duro”.

Como em qualquer canto do mundo, aqui em Natal existiam uns exemplares dessa fauna e, como a aldeia era pequena, se conhecia pelo nome.

Porém, não vou nominá-los, por falta de autorização.

Conheci um, com quem tive muita aproximação, que fazia questão de tirar proveito e até incentivar o mito, ele próprio, rindo da fama.

Era ele quem oferecia munição para as brincadeiras.

Essa eu VI, quando ele disse que ia para uma festa, vestido com uma camisa de “mescla” – que era um tecido usado pelos pobres – para o “pessoal poder falar”.

E assim fez.

Fomos para um churrasco nas terras de Roberto Varela, em Ceará Mirim, me parece promovido pelo Rotary Clube, do qual ele era sócio, e, chegando lá, a previsão dele se concretizou, com os seus amigos dizendo que ele era “amarrado”, usando roupa de pobre, quando não tinha necessidade disso.

Ele ria com o sucesso.

Para não ir muito longe vou citar um outro seu amigo, para fazer o par.

Com esse, embora contemporâneo, eu não tinha intimidade com a família.

Meu irmão, João Ferreira, sim.

Daí, foi que eu OUVI, à época, essa história, que contavam como piada.

Num determinado dia, um deles foi visitar o outro e, quando se acomodaram na sala, o dono da casa disse: vamos apagar a luz, pois a gente já se conhece e não tem necessidade de claridade.

Isso, para não gastar energia.

Quando as mulheres vieram para comunicar o fim da visita, o visitante disse: calma. Deixe eu me vestir, porque tinha tirado as calças.

Isso, para não gastar o tecido.

Obviamente, era uma estória sem comprovação, criada para fazer graça e manter o tema em evidência.

Porém, existem muitas desse tipo, e, algumas, verdadeiras.

O MAIS AMARRADO DE NATAL

Uma das características do “mão de vaca”, era ter a mão fechada.

Não abria nem para pedir a benção.

Daí falarem que o mais famoso “amarrado” de Natal, era um, que diziam ser capaz de atravessar o Rio Potengi, nadando, com dois comprimidos efervescentes de Alka-Seltzer, dentro da mão fechada e eles chegavam na Redinha, totalmente enxutos.

Imaginando que esse remédio não mais existia, cheguei a escrever isso: “somente para relembrar aos mais antigos e esclarecer aos mais novos, Alka-Seltzer era um produto da BAYER, cuja finalidade era a de combater a acidez do estomago, e a azia”.

Como fazia muito tempo que eu não ouvia falar em Alka-Seltzer, resolvi consultar “Seo Guga”, como eu chamo o Google.

Qual foi minha surpresa, em saber que os comprimidos não somente ainda existem, como também tem muitas outras utilidades, além de salvar o cristão das dores de estomago.

Você só acredita vendo. Vamos lá:

– Associado ao vinagre, desentope canos;

– Simplesmente jogados dentro de um vaso sanitário, depois de uma meia hora toda a sujeira desgruda;

– Torna-se um limpador multiuso, depois de dissolvido em agua morna;

– Vasos e jarros que não permitem a entrada de escovas e esponjas tem o seu interior limpo depois que os comprimidos são jogados dentro e adicionada agua morna;

– Para mim que gosto de pescar, essa foi o máximo. Lançado junto com a isca, ajuda na pescaria, pois as bolhas atraem os peixes;

– Dissolvido em agua quente, alivia dores decorrentes de picadas de insetos, tira o amarelidão das roupas brancas, desgruda comida das panelas ao deixa-las de molho, remove manchas de extrato de tomate e curry de recipientes de plástico, dá polimento em joias e limpa a cafeteira.

Se não bastasse tudo isso, também é usado para limpar conservadoras de gelo – as antigas caixas de isopor e os atuais “cooler” – e também geladeiras, pois colocados dentro, limpa e tira o odor desagradável.

Para finalizar, com chave de ouro, como diria, na brincadeira, o meu amigo Haroldo Azevedo: é de “prémera” para limpar dentadura. Coloca o comprimido num copo com agua e mergulha a dentadura. Acredite: fica novinha.

Dê licença. Estou indo comprar Alka-Seltzer!!!

Sim. Já que Alka-Seltzer não é coisa antiga, vamos voltar ao tema de antigamente.

 

PRODUÇÃO DE FLORES PARA DEFUNTOS

Hoje, as floriculturas disponibilizam uma infinidade de tipos de flores e arranjos para que sejam usados na decoração de festas, inclusive casamentos, mas também nos velórios.

Porém, no Natal de antigamente, três ou quatro pessoas produziam algumas rosas, sorrisos de Maria e samambaias.

Era o máximo com que se podia contar.

Quando morria alguém, procuravam-se os locais de venda, torcendo para que não houvesse muitos enterros no mesmo dia, pois a produção era limitada.

ROUPA DE LUTO

Já que falamos em defunto, me lembrei da roupa de luto.

Existia o “luto fechado”, que era a roupa toda preta, usada pelas mulheres nos primeiros seis meses. Depois disso “aliviava”, passando a usar uma mistura de preto e branco. A viúva, no entanto, vestia preto pelo resto da vida.

Os homens colocavam um “fumo” no bolso da camisa, que era um tecido preto.

Para o sepultamento, quanto aos defuntos do sexo masculino, eles eram vestidos, com uma boa roupa disponível, tipo paletó e gravata.

Os defuntos do sexo feminino eram vestidos com uma “mortalha”, confeccionada, normalmente, de cor roxa, distinguindo-se aquelas que fossem virgens, cuja mortalha era branca.

Lembro que OUVI uma história sobre isso.

Morre uma certa “moça solteira” e as mulheres da família ficam com a responsabilidade de confeccionar a mortalha.

Quando escolhem um tecido branco, uma delas fala: olha. Que a morta me perdoe, e também deixando claro que não estou aqui para fazer fofoca. Porém, quero dizer que Mariquinha teve uns relacionamentos meio “arroxados”, e, segundo falam, ela não era mais virgem.

E agora? Instalou-se o maior impasse.

As amigas da defunta passaram a discutir a questão.

Então, uma delas propõe uma solução, dizendo: não podemos agora demorar, discutindo esse assunto.

Façamos o seguinte: vamos comprar um tecido branco com umas florzinhas roxas.

Assunto encerrado.

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista –antoniojfm@gmail.com

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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