CARNAVAL –

Nunca fui o que se poderia chamar de carnavalesco. Muito menos de carnavalesco emérito. Mas, temp passé, dei minhas pernadas, como se dizia antigamente.

Lembro-me, com alegria, dos tempo dos bailes no antigo Aero Clube, com Boquinha fiscalizando o nosso comportamento; do corso na Ribeira, depois na Av. Rio Branco e em seguida na Deodoro. O “corso”, para quem não se lembra ou não conheceu, era uma fila de carros abertos, circulando na avenida, jogando confete e serpentina de um para o outro, e se alvejando com lança perfume. Depois, tanto o América como o ABC fizeram os seus carnavais, que se tornaram também tradicionais. Mas nenhum deles desbancou o Aero e seus áureos tempos.

Ao lado dos carros, tanto entre os carros e as calçadas, como no meio da rua, que ficava livre, os foliões dançavam e cantavam. Havia uma figura que se tornou histórica, “Ioiô Barros”, que cantava o tempo todo uma musiquinha que dizia: Olha o cão, olha o cão, olha o cão Jaraguá”. E levava um recipiente cheio de cerveja e salsichas que confundia muita gente.

A festa do Aero começava no Sábado. Até a meia-noite, traje a rigor. Após o badalar da meia-noite, a orquestra tocava o “Zé Pereira”, que abria o Carnaval. Fraques e gravatas eram jogados para os lados e as fantasias surgiam.

Nesses tempos, a lança perfume era permitida. Alvejávamos com um jato frio nossas paqueras, ou apontávamos nos olhos dos nossos concorrentes (ardia muito), e arriscávamos um “porre” aqui ou outro acolá. “Porre” era o cheirar-se a lança perfume, o que deixava uma sensação de embriaguez. Completava o “cinzano com conhaque”, a bebida mais forte. Não havia uísque, ou vodca e nenhuma dessas coisas novas que enlouquecem os circunstantes. E o conhaque, mais das vezes, era o famoso “Conhaque São João da Barra”, o mais barato.

E as músicas podiam ser ouvidas e cantadas. Bonitas, traziam mensagens, contavam histórias, tinham melodia. Lembro-me de algumas: “Bandeira Branca”, “Jardineira”, “Pierrot apaixonado”, “Alah La ô”,  “Ta-hí”, “Helena, Helena”, “Emília”, entre tantas outros.

Nos reuníamos no Grande Ponto, onde começávamos a festa. Depois, pegávamos o bonde do Tirol, cuja linha terminava em frente ao Aero. Chegávamos cedo. Em redor da nove horas, quando o baile estava começando ou já havia mesmo começado. A orquestra tocava até as cinco da manhã. E voltávamos a pé, pois o bonde já se havia recolhido desde a meia-noite.

Formavam-se blocos, que passavam o dia brincando. “Assaltavam” as casas dos amigos, sempre muito bem recebidos com boa comida e farta bebida. Nunca participei desses blocos pessoalmente, mas muitos dos meus amigos fizeram parte deles. Um dos mais conhecidos foi o “Jardim de Infância”, que atravessou gerações.

Festa sadia de uma Natal inocente e pequena. Todos se conheciam. Uma família. Mas, nem por isso, deixavam minhas tias avós, carolas, de chamarem o Carnaval de “festa do cão”. Bons tempos. Não que os tempos atuais não sejam bons. São apenas diferentes.

 

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN, dandrade@dmandrade.com.br

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