CADÊ O PEIXE? – Berilo de Castro

CADÊ O PEIXE? –

Por mais de trinta anos veraneio na pequena e admirável Praia de Pirangi (do Norte) — pura besteira essa divisão geográfica.

Momento de muita descontração, de encontros saudosos, de unir e desfrutar mais a família; de respirar um ar mais puro, de sair da clausura das gaiolas de cimento armado da capital; enfim, um período necessário e salutar.

O contraponto surgiu nos últimos anos com a chegada dos “loucos” por som alto. São os portadores e amantes dos insuportáveis estupradores dos tímpanos que passaram a incomodar a calmaria e a tranquilidade de tempos passados.

Esquecendo e adaptando os ouvidos, ou protegendo-os contra as “geniais” músicas de Anita, Ludmila, os Sertanejos e companhia, voltamos ao bom momento de veraneio: boas caminhadas matinais, bom mergulho nas águas mornas em mar sereno e de verde-esmeralda, revendo e conversando com amigos, acompanhando a atividade dos “arrais” (olheiros) à procura de cardumes de tainhas, sardinhas, xaréus, etc. Uma beleza inovadora e inigualável.

Este ano um fato me chamou atenção e me fez ficar curioso: a ausência de peixes nos arrastões (tresmalhos).

Costumo ser um fiel e curioso assistente para ver que tipos e tamanhos de peixes são arrastados.

Percebi que todos os dias os arrastões feitos por duas redes de pescadores não traziam nada, somente sargaços.

Em casa, no balanço da rede no terraço, em conversa com o meu auxiliar, nativo e conhecedor profundo das histórias de pescadores e do mar, chamo a sua atenção e peço explicações para a ausência de peixes nos arrastões.

— Pergunto: Sobral, o que é que está acontecendo este ano com os arrastões? Não estão trazendo nada de peixe. O que foi que aconteceu?

— Doutor, o negócio é o seguinte: ali todo aquele pessoal é uma família só; no final do ano passado, pegaram uma briga de rachar, de feder a fogo, quase saindo faca e “bofes” de fora. Resultado: se afastaram e dividiram a pequena praia em dois espaços de pesca, cada grupo com o seu tresmalho.

— Não entendi! Qual a relação que tem o acontecido com a fuga dos peixes?

— Doutor, eu só sei de uma coisa: a pescaria está rolando a mil por hora, com muita fartura, coisa nunca vista na vizinha praia do Cotovelo, é peixe em “banda de lata”: tainhas, xareletes e carapebas enchendo e esbarrotando os cestos, peixes que não acabam mais; coisa inusitada.

— E por que não em Pirangi?

— Eu acho que os peixes ouviram e perceberam a discussão, a briga, a ganância dos pescadores de Pirangi e se danaram pra Cotovelo, onde preferiram ser arrastados. É o que todo mundo comenta aqui, concluiu o nativo.
Conversa de pescador!

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  berilodecastro@hotmail.com.br

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,1130 DÓLAR TURISMO: R$ 5,2810 EURO: R$ 5,5570 LIBRA: R$ 6,4920 PESO…

2 dias ago

Órgãos não têm como chegar ao RS e até 2,7 mil pessoas podem ficar sem transplantes

As inundações que atingiram o Rio Grande do Sul nas últimas três semanas tiraram, temporariamente, o…

2 dias ago

Caixa começa a pagar Bolsa Família de maio

A Caixa Econômica Federal começa a pagar a parcela de maio do novo Bolsa Família.…

2 dias ago

Brasil comemora retirada de Cuba da lista dos EUA sobre terrorismo

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil comemorou, em nota publicada nessa quinta-feira (16),…

2 dias ago

Taxa de alfabetização chega a 93% da população brasileira, revela IBGE

No Brasil, das 163 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 15 anos,…

2 dias ago

Dupla é flagrada fazendo manobras arriscadas com quadriciclo na BR-101

Duas pessoas foram flagradas fazendo manobras arriscadas com um quadriciclo na BR-101, na altura de…

2 dias ago

This website uses cookies.