ARTIGO: Ivan Lira de Carvalho

 

A CANÇÃO DE ASSIS E DE OUTROS BONS –

Outubro é chamado mês franciscano, quando a igreja conclama os fiéis à reflexão sobre o legado de São Francisco de Assis:  paz, caridade,  desprendimento e amor à natureza, principalmente aos animais.   Revisitadas são as bandeiras do santo italiano, as quais encontram largo espaço para discussão, pois reverberam em temas que ultrapassam barreiras políticas, geográficas, econômicas e sociais.

Admiro Francisco pelos seus gestos de renúncia aos bens materiais e pela sua audácia de contestar o modelo de exploração do trabalho humano personificado no seu próprio pai, o empresário de tecelagem Pietro di Bernadone dei Morriconi,  aí pelo início do Século Treze, na pequena comuna da Umbria que lhe dá sobrenome. O gesto de despir-se de todas as vestes,  entregando-as ao genitor prepotente e opulento, tem um significado político que permanece atual, formando paralelo com outras lições deixadas pelo Santo, como o da harmonia entre homens e bichos.

Outro ponto da obra viva de Assis que merece reverência é a cultura do pacifismo. Essa feição antibelicosa pode ser sentida na “Oração da Paz”, conhecida como “de São Francisco”, que agasalhada por uma harmoniosa melodia abre-se em versos de invocação: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz./ Onde houver ódio, que eu leve o amor;/ Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;/ Onde houver discórdia, que eu leve a união.”.

Essa “Oração” tem sido repassada ao público como de autoria de Francisco. Não é. E nem se sabe direito quem compôs tão belas estrofes. Levantamentos  históricos dão conta da sua aparição em uma obscura revista da Normandia, por volta de 1912. Já no âmago da Primeira Guerra Mundial, 1916, l’Ossevatore Romano a divulgou em um contexto de súplicas pelo fim do conflito universal. A identidade das preces com a linha de conduta de Assis levou um frade francês, Visitador da Ordem Terceira Secular de Reims, a imprimir uma estampa de São Francisco, tendo na parte de trás  a “Oração”. Daí construiu-se a pouco verossímil autoria.

O uso da peça não é exclusividade dos católicos. Adotam-na também protestantes valdenses, bem assim anglicanos e luteranos. Essa mistura de credos em aliança fundida por uma poesia, mostra que é possível a paz pregada por Francisco.

Ivan Lira de CarvalhoJuiz Federal e Professor da UFRN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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