Três tios –

Três amigos. Três grandes figuras. Todos Mello e por parte de mãe. Todos com ótimas estórias, pois eram originais, espirituosos, e cheios de vida. Não os esqueço, nem suas estórias. Espirituosas, inteligentes, divertidas. Veríssimo (Vivi), Protásio e Pelúsio. Resumo-me hoje a uma estória de cada um. Tenho dezenas, talvez centenas, de estórias dos três. Ficam para depois.

Vivi, boêmio, tocador de violão e cantor, gostava de um papo noturno e de um bar. A mulher dele, Noêmia, com quem, diga-se, era muito bem casado, era braba e ciumenta. Sempre reclamava dessas saídas. Um dia, ele chega em casa por volta de três da manhã. Ela o esperava, acordada, com um rolo de macarrão na mão (quem se lembra?). Quando ele entra, ela diz: isso é hora de chegar em casa, três da manhã? Ele, calmíssimo, como sempre; quem disse que cheguei em casa? Vim buscar o violão.

 Protásio, professor de Inglês a vida toda, Diretor do Atheneu Feminino por vários anos (sim, naquele tempo havia o Atheneu masculino e o feminino, separados; só se juntaram muito depois, nos científicos e clássicos, e depois da guerra, que eu ainda peguei). Chegaram por aqui uns americanos, pastores da Igreja Mórmon. Descobriram Protásio e quase todo dia iam na casa dele bater papo. Protásio achava ótimo, pois era uma oportunidade de falar inglês. Um dia, convencidos que ele havia se convertido, foram convidá-lo para ser batizado. Calmo como sempre, Protásio explicou, sinto muito, não dá, e vou dar as razões principais: minha mãe já está velhinha, muito católica, e se souber que eu mudei de religião, pode ter um troço; depois, eu gosto muito de uma cervejinha, que vocês proíbem, e não vou abandoná-la e terceiro, nesta época do ano, as águas do Potengy estão muito frias.

Esta é de Pelúsio. Existe dezenas de estórias dele. Essa é das que eu gosto mais. Meu primo Rogério, filho único, mudou-se para um apartamento, num dos primeiros prédios de apartamentos de Natal. Dizia ao pai que estava achando ótimo. Um dia, chega chateado e diz à Pelúsio: vou me mudar, não aguento mais. Por que? O que houve? Meu prédio virou um verdadeiro cabaré: música alta, mulheres nuas nos corredores, uma anarquia. Ora, não seja por isso, mas fale com sua mãe; se ela concordar, eu vou pra lá e você vem pra cá.

Os três sabiam viver, e aproveitaram o melhor da vida. Aprendi muitas coisas com eles.

Dalton Mello de Andrade  Ex-secretario de Educação do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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