A REPÚBLICA VELHA COM SEUS PERSONAGENS, SUAS GUERRAS E COSTUMES –
Na quarta-feira, 21/08, tive a alegria de participar de um evento da Comissão de História e Geografia, em Brasília, no auditório do Instituto Histórico e Geográfico da Capital, fundado pelo então senador Juscelino Kubitschek.
Coube-me a palestra sob a temática histórica e social da República Velha, com seus requintes de pioneirismo e narrativas de rudeza no trato das reações populares ao novo regime. Dado que a passagem abrupta de mando se deu a 15 de novembro de 1889, com as novas ordenações, quando passou a ensejar o coronelismo de paróquia e província, notadamente nos sertões do Nordeste. O limite temporal foi na assunção de Getúlio Vargas, no bojo da Revolução de 1930.
Não há dúvida que para entender o período a que buscar luzes no Primeiro Reinado e na Constituição de 1824, que, embora censitária, apenas 2% da população (os mais endinheirados) tinham direito ao voto, foi a segunda Carta Magna de maior duração após a dos Estados Unidos da América: durou 65 anos.
O messianismo igualmente entrou no rol dos itens abordados, entrando na citação, sempre enaltecedora de cunho popular e sociocultural, as figuras do Padre Ibiapina, de Antônio Conselheiro, e do venerável Padre Cícero, todos da Província do Ceará, com suas lendas, virtudes e atribulações.
A seca dos séculos XIX e XX, que ensejou a diáspora para o areento sertão potiguar, e paraibano, além dos limites de Pernambuco. Retirantes famélicos que acabavam nos braços dos coronéis de latada ou dos chefes cangaceiros, como Lampião.
O melhor dos mundos para os sertanejos desassistidos seria alcançar Juazeiro do Padim Ciço, ou, mais adentrado à caatinga ardente, seguir os passos do santo Antônio Conselheiro. A morte e a esperança, uma companhia constante.
A reparar no aspecto político que a República, embora Velha, produziu brasileiros de grande valor cultural e humano, a citar dois, o Marechal Rondon e o Presidente Rodrigues Alves.
O marechal que estendeu as linhas do telégrafo selva adentro, procurando fazer aproximações não traumáticas com os indígenas puros, sendo que o próprio Rondon, mato-grossense, de origem nativa, descendente de indígenas terena e bororo. Seu subido legado tão proeminente para a causa dos índios, que mereceu o epíteto de Marechal da Paz, sendo indicado para o Prêmio Nobel, pelo The Explorers Club, de Nova Iorque, em 1957. Seu lema eternizado, após levar uma flechada numa das expedições: morrer se preciso for; matar, nunca!
O advogado paulista de Guaratinguetá, Rodrigues Alves, foi colega da Faculdade de Direito de Rui Barbosa, e o quinto presidente do Brasil. Atuou antes, no governo Deodoro, foi ministro da Fazenda, para debelar a crise provocada pela política do Encilhamento, que quase levou o Brasil à bancarrota. Na República Velha foi governador
de São Paulo, eleito por três vezes, e por duas vezes eleito presidente do país. No seu primeiro governo no Catete, em meio às epidemias que grassavam o Rio de Janeiro, nomeou Osvaldo Cruz para a campanha de vacinação, e apoiou o Prefeito Pereira Passos, para remodelar e instalar as linhas de água e esgoto, que fizeram arrefecer as epidemias. Acabou que na segunda eleição vencida para a presidência, contraiu a febre espanhola, vindo logo a falecer.
Foi a República Velha de tantos homens honrados e outros nem tanto, do voto de cabresto, dos coronéis de alpendre; no entanto, também sobressaíram ilustres personagens que marcaram definitivamente a história política brasileira.
Luiz Serra – Professor e escritor
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