A PROTETORA – 

Cândida  sempre foi muito estudiosa. Formou-se em duas faculdades: De Psicologia  e de Letras. Optou por ser professora, obtendo aprovação em concurso público federal.
Sua marca registrada sempre foi a personalidade forte, que chegava a ser confundida com fanatismo. Desde criança, tinha opinião própria,  até nas escolhas de suas roupas, o que não acontecia com suas duas irmãs.  Ainda adolescente, tinha fanatismo por partido político, candidatos, time de futebol, cantores, artistas de cinema, fora os heróis de revistas em quadrinho.
Apesar de ser tratável, Cândida sempre saía do sério, quando alguém ousava se  posicionar contra os seus fanatismos.  Quem assim o fizesse, imediatamente recebia sua reprovação, o que, às vezes, resultava em intrigas passageiras.

Desde criança, Cândida deixou de comer galinha, pois, certo dia, sem querer, viu a cozinheira da sua casa  matando uma, para preparar o almoço. Ficou em pânico e revoltada. As poucas galinhas de sua mãe, que restaram no galinheiro, morreram de velhas e de morte natural, a pedido dela. Afeiçoou-se às galinhas e pôs nomes em cada uma delas, inclusive uma se chamava Marta Rocha, o no nome de uma Miss Brasil.

Certa vez, Cândida, já adulta,  viu um gatinho ser atropelado perto da sua casa. Penalizada, levou-o para uma clínica veterinária e pagou as despesas do tratamento, até que ficasse curado. O gato teve alta e Cândida passou a criá-lo.  Alguém soube disso e a casa se transformou num  depositário de gatos enjeitados.  As pessoas abandonavam os gatos no jardim da sua casa e Cândida  se afeiçoava a eles, transformando-se numa verdadeira protetora. Se um adoecesse,  Cândida chamava o veterinário,  para atendimento a domicílio. Gastava uma boa parte do seu salário com remédios e às vezes internamentos em clínicas veterinárias.

Numa visita ao Cemitério,  perto do túmulo de um ente querido, Cândida viu  um gato com uma ferida no pescoço. Por telefone, chamou um  médico veterinário até lá. O homem examinou o gato e  receitou os remédios necessários. Mas, no Cemitério “moravam” outros gatos, doentes e famintos.  Cândida não os levou  para a sua casa, mas assumiu, consigo mesmo, o compromisso de patrocinar o tratamento de suas enfermidades e levar sempre ração para eles, sob os cuidados do Administrador. Decorridos alguns anos,  Cândida ainda mantém o mesmo hábito, sozinha, e por conta própria. Solteira por opção, sua vida é dividida entre sua residência, o trabalho profissional,  e as visitas ao Cemitério, onde seus pais estão sepultados, e onde se encontra um enorme número de gatos, esperando a visita de sua protetora.

Mesmo já contando tempo de serviço suficiente para se aposentar,  Cândida, que  detesta a palavra “aposentadoria”,  optou por continuar trabalhando, até que seja alcançada pela compulsória.  É uma grande mulher, digna de admiração.

 

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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