A NUDEZ DA SOLIDÃO –

Existe uma doutrina defendida pelos monges trapistas do Tibet – até hoje não superada – de que ninguém administra sozinho. E uma corrente mais ortodoxa complementa: não se ganha eleição sozinho. No Brasil, desde 1947, os pleitos majoritários e democráticos que elegeram Getúlio, Juscelino, Jânio, Fernando Henrique, Collor de Melo, Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro, resultaram de uma miscelânea de partidos. Todos governaram (?) com as facções que davam suporte político, não apenas no Congresso mas também nos aluguéis dos ministérios. Os novos tempos da Lava a Jato e seus registros criminais sepultaram as disputas ideológicas além das político-partidárias. Abriu-se uma fenda abissal na cabeça do povo que sepultou imenso contingente de seletos malfeitores. Posturas de governos de cama e mesa morrem todo dia vítimas da inexorabilidade do tempo e do fastio do povo.

Levantando-se voo do aerofágico campo de aviação de Brasília, aterrisso no aeroporto Aluízio Alves. Logo na pista de pouso pergunta-se: pode um governante administrar o Rio Grande do Norte sem o apoio popular e com o silêncio do poder legislativo? Nesse quadro de incertezas, costura-se o longo caminho de alianças partidárias, políticas, lotéricas, familiares, sindéticas, assindéticas, históricas e histéricas. Fica evidenciado que governo não pode ser de uma pessoa só. E que a política nessa primavera é um mar de naufrágios fatais. Para o povo, o político continua sendo aquele indivíduo fraco e defeituoso. E não somente ele, mas todos os poderes institucionais. A máquina estatal tem que diminuir de tamanho e extirpar os privilégios. Vai ter que poupar mais ou tanto quanto a mulher de Patufas que era tão econômica em todas as coisas, que, mesmo fazendo amor, poupava o gemido.

A preocupação hoje é com a voz rouca das ruas para que não se torne amanhã uma bronquite pneumônica. É quando o verbo votar passar a ser intransitivo e irrefletido. Dir-se-á que os políticos abominam mudança eleitoral. Mas, são doidos pelo fundo eleitoral. O sufocamento da verdade e da transparência nessas transações eleitoreiras, eles consideram um charme e não uma feiura, uma paranóia, tal o corporativismo. No Rio Grande do Norte há um cheiro de pólvora no ar. As aparências não enganam. Vultos furtivos, à espreita, preparam escaramuças. Mãos anônimas tecem fios de discórdia. Há muita vaidade em jogo. A praça 07 de Setembro lança labaredas mais altas que as torres da telefonia celular lá nas dunas que serpenteiam Natal. A meu ver, a aliança da governabilidade está trincando. O compadrio do poder deixa escapar surdos gemidos e não nega, sequer, as flatulências. A temporada gastronômica que precede os abalos sísmicos da política estadual já começou. Querem almoçar bacurau ao molho pardo. E numa churrascaria um grupo de partisans pediram tucanos ao vinagrete.

O fato é que os observadores da cena política, mesmo sendo primavera um período floral, estão se surpreendendo sem razão. O ano da graça de 2022, está às portas. Aqui, hoje, sorrisos punhais escondem. Nessas incertezas, se outra for a leitura é porque tá todo mundo enrolando. E a sucessão governamental? Li numa coluna de estudos científicos que a seca no Rio Grande do Norte possui um estranho desígnio de engravidar os partidos políticos. As alianças repentinas sem uso de preservativo podem produzir efeitos deformadores. Estudiosos no assunto já classificam a promiscuidade política como transtorno de conduta. E se ocorrer inverno no início de 2022, a sua fúria pode romper adutoras e até velhos compromissos que não são eternos. Por enquanto, disse-me um prefeito, que “é melhor sofrer no poder do que longe dele”. Lembre-se o gestor público que o verdadeiro dono do mapa e da mina é o povo.

 

 

 

 

 

Valério Mesquita – Escritor, Membro da Academia Macaibense de Letras, Academia Norte-Riograndense de letras e do Conselho Estadual de Cultura  e do IHGRN– mesquita.valerio@gmail.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,1810 DÓLAR TURISMO: R$ 5,3700 EURO: R$ 5,5400 LIBRA: R$ 6,4830 PESO…

2 dias ago

Dia do Trabalhador: veja o que abre e fecha no comércio de Natal na quarta-feira (1º)

O comércio de rua e os supermercados de Natal estarão fechados no feriado do Dia…

2 dias ago

Manifestantes pró-Palestina invadem prédio da Universidade de Columbia; presos em protestos chegam a 1.000

Após ignorarem um ultimato da direção para desmontar acampamento, manifestantes pró-Palestina quebraram janelas e invadiram um…

2 dias ago

Rei Charles III retoma agenda pública com visita a centro de tratamento para câncer em Londres

O rei Charles III voltou nesta terça-feira (30) a comparecer a compromissos públicos, após meses ausentes para…

2 dias ago

Petrobras e governo do RN assinam acordo para instalação de projeto piloto de geração de energia eólica em alto mar

O governo do Rio Grande do Norte e a Petrobras assinaram nessa segunda-feira (29) um memorando…

2 dias ago

Onda de calor se estende e deve durar até segunda semana de maio

Inicialmente prevista para acabar nesta semana, a quarta onda de calor do ano deve durar até…

2 dias ago

This website uses cookies.