2021- Roberto Goyano

2021-

Gostaria hoje de iniciar o ano escrevendo um pouco sobre esta nova jornada.

Talvez exercitando um pouco de futurologia ou quem sabe um pouco de meteorologia. Não aquela tradicional, mas uma meteorologia econômica e social.

Isso significa que estou sujeito a erros por conta do soprar dos ventos, muito embora algumas correntes são frequentes e renitentes.

Para isso tenho que discorrer um pouco sobre os acontecimentos que ainda não podem ser chamados de passados, ainda que sejam de conhecimento público.

O ano se inicia com tempo fechado por conta de alguns problemas que, herdados de 2020 ainda permanecem pairando no ar.

Sem dúvida é um ano que traz alguma esperança, ainda que, sob alguns aspectos, tênues e remotas.

A grande esperança para todos vem num frasco abrigando um líquido, é a vacina contra o COVID 19. Já temos várias em uso e outras tantas em testes finais.

Aqui começa o primeiro indício de mau tempo.

Indício agravado pela segunda onda de contaminação e algumas mutações viróticas que as disseminam com mais facilidade e rapidez.

Ainda não temos nenhuma aprovada e além disso, por conta de logística poderão faltar insumos para sua aplicação.

Não temos ainda nada claramente definido e contamos, para agravar a situação, de uma disputa política sem sentido além de uma negação sobre a questão.

Isso vai além do admissível e não cabe neste momento indicar culpados, cabe sim juntar esforços para que, no menor tempo possível, possamos proteger nossa população.

Ainda nessa questão envolvendo saúde pública, se nos apresenta à frente uma situação extremamente complexa.

O grande advento que foi, e ainda é, fundamental para o enfrentamento dessa pandemia chama-se SUS, até então defenestrado.

Esse sistema copiado do sistema Britânico, adequado às nossas diferenças, foi e será o principal agente para qualquer plano de vacinação que, por sinal o Brasil sempre foi referência.

Mesmo contando com um sistema comprovado, ainda que tenha suas limitações, há a falta de investimento maciço para garantir seu funcionamento e melhora. Não podemos esquecer que o SUS não tem apenas a vacinação contra COVID-19, existem outros planos de vacinação que deverão ser executados, concomitantemente ou não isso apenas os especialistas poderão definir.

Mas não é apenas isso, a maioria de todos os procedimentos de atendimento médico hospitalar, internações, cirurgias eletivas ou emergenciais, clinica, geral e especialidades são feitas através deste sistema que é o único que dá suporte ao povo brasileiro e, não apenas aos mais pobres.

Esse é o quadro que vemos e que não mudará apenas pela virada do calendário. Teremos uma árdua batalha para travar.

Tivemos no ano que ¨quase¨ se foi, assim digo por conta das sequelas ainda existentes que demandarão ainda um longo tempo para se resolver, uma injeção de recursos significativas e necessárias para o enfrentamento dos efeitos econômicos desta pandemia.

Os recursos totais, autorizados, destinados a esse enfrentamento foi de $573,5 bilhões segundo o RAF (Relatório de Acompanhamento Fiscal), desse valor, conforme divulgado pela imprensa, o total efetivamente pago até meados de dezembro está em torno de aproximadamente $ 490 bilhões.

Trocando em miúdos para o que mais interessa, tivemos uma paralização brutal de toda a cadeia econômica por conta da necessidade do afastamento social e isso gerou uma série de efeitos nefastos.

O primeiro deles foi o fechamento de inúmeras vagas de trabalho com a consequente demissão de funcionários.

Várias empresas desapareceram, outras terminaram por passar para regimes de recuperação judicial, outras ainda permaneceram em atividades marginais.

Apesar dos recursos destinados especificamente para amenizar essa situação.

Os gastos aproximados apenas para melhor ilustrar o que digo são os seguintes:

1- Recursos auxilio emergencial da população elegível – $292 bilhões

2- População elegível atingida 65 milhões

3- Auxilio às empresas para manutenção de empregos $ 33 bilhões

4- População atingida superior a 14 milhões.

O segundo indício de tempo fechado é o término desse auxilio emergencial tanto para os menos favorecidos quanto para as empresas que foram por ele suportadas.

É voz corrente entre especialistas que, por conta da não renovação desses recursos haverá um aumento no índice de desemprego, podendo ultrapassar 18%, hoje já estamos em alarmantes 14,5%.

Já se fala reservadamente em estender esse auxilio por mais tempo, se não nos mesmos valores e abrangência, pelo menos favorecendo os mais necessitados dentro de critérios mais restritivos.

Nova ameaça de tempo fechado sujeito a tempestades, ainda que momentâneas, faltam recursos para tanto e há um limitante teto de gastos.

Não vou aqui, novamente, falar sobre emissão de moeda, mas vou passar para revisar ato do STF que proibiu a redução de jornada e salários de funcionários públicos, casta diferenciada não sujeita ao Artigo 5º da Constituição Federal.

Uma providencia que daria certa folga ao executivo.

O outro indício de tempo severo é a necessidade de reformas estruturantes que, com certeza, demandarão tempo importante para serem aprovadas e, não tenho ilusão que não serão abrangentes e profundas como deveriam ser. O corporativismo e a falta de senso comum são um empecilho quase insuperável, especialmente a administrativa.

Também para agravar ainda mais essa situação haverá necessidade de investimento do setor público em projetos de relevância que devem ser escolhidos por seu máximo retorno com os menores investimentos diretos.

Estamos limitados pelo mesmo teto de gastos para fazer frente a esse exercito de desempregados.

A irresponsabilidade de nossa população, isso de forma geral, quanto a manutenção de protocolos de segurança permanece e, por incrível que pareça, se acentua apesar de existir informação suficiente sobre os riscos de contaminação.

Exemplos de outros países, já severamente sendo afetados novamente por conta das novas cepas viróticas não faltam.

Apesar de um panorama mais favorável na área financeira mundial com excesso de liquidez corremos o risco de não conseguirmos absorver capital externo não especulativo por conta de nossas crises internas e questões ambientais.

Mais um indício de tempestade.

Necessitamos desse capital tanto para privatizações quanto para parcerias com o poder público reduzindo assim nossa necessidade de investimento.

Enfim não tenho a ilusão de uma rápida melhora nesse clima que estará com nuvens carregadas, prováveis tempestades, espero que passageiras, chuvas e trovoadas por um período.

Sabendo que a meteorologia é dependente dos ventos fico na expectativa de que as correntes se modifiquem trazendo uma expectativa maior de tempos menos severos.

Por ora não há como prever clima melhor, porém fica o velho ditado, após a tempestade vem a bonança.

Ou melhor ainda não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.

 

 

 

Roberto Goyano – Engenheiro

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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