Dalton Mello de Andrade

            Telefona-me um amigo de Curitiba e dá-me a notícia de que nasceu o seu primeiro neto. Feliz, comunicava a novidade com entusiasmo. O parabenizei, claro, e como não gosto de ser desmancha prazer,  não lhe disse que só de  bisnetos eu já tinha quase uma dúzia e que ele estava muito atrasado na empreitada.

            Esse telefonema me pôs a pensar. Quando esse menino estiver da minha idade, em 2.100, como será o mundo? Eis aí a única coisa que tenho inveja. Não chegar a ver, (ou será que a gente verá?) o mundo de então. O jeito é me contentar com o que já vi até agora. E do que vi, alguns coisas, hoje sem maior evidência, à época foram fantásticas. Se não fantásticas, de qualquer forma surpreendentes. Eis algumas delas.

            A primeira coisa que realmente me chamou a atenção foi a construção da pista de Parnamirim pelos americanos. Tinha aí meus 11/12 anos. Pela estrada velha, por Macaíba, a viagem era quase tão demorada quanto ir hoje ao “hub” de São Gonçalo. Na verdade, o primeiro “hub” de Natal foi Parnamirim,  patrocínio da Força Aérea Americana, sem incentivos fiscais ou badalações. Mas, eram outros tempos, tempos de guerra. Construíram, e eu assisti, a pista em uns 40/45 dias, que para mim, ainda hoje, parece que foi numa semana. Máquinas enormes, construção sólida, que resistiu até ser recoberta pela nova estrada, uma ruma de anos depois. Lição que não aprendemos, pois construímos hoje e na primeira chuva a estrada se enche de crateras lunares.

            Outra coisa que me surpreendeu foi a substituição dos telefones antigos pelos automáticos. Antes, você usava um telefone, pendurado num gancho, que tinha uma alavanca para chamar, era atendido por uma telefonista que lhe pedia o número e fazia sua ligação. Ainda me lembro do número do escritório de meu pai – 1268. Com os automáticos, pesados, feios, você tirava o telefone do “gancho”, (embora não tivessem mais gancho, lembrança dos antigos), e você mesmo discava o número, depois de escutar o sinal de linha. Incrível, na época.

            E a inauguração do “Cinema São Luiz”, que trouxe para Natal o “cinemascope”? Lembro até do filme da inauguração, “Como era verde o meu vale”, uma história sobre as minas de carvão na Inglaterra. Só não me lembro da data exata, mas já foi depois da guerra. Ainda tinha bonde, que pegava no Grande Ponto para ir até o Alecrim, Praça Gentil Ferreira, perto de onde ficava o cinema. Hoje, parece, é o Banco do Brasil. Tempos que não ando por lá. Falta de tempo.

            Sempre lembro coisas como essas. E as comento, com familiares, com amigos. Recordar é viver. E ajuda a gente a manter a cabeça boa.

Dalton Mello de AndradeEx Secretário de Educação do RN

Ponto de Vista

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