VOLTANDO À VACA FRIA – Armando Negreiros

VOLTANDO À VACA FRIA –

Os últimos acontecimentos trouxeram extrema comicidade para assuntos muito sérios. Nunca um silêncio foi tão ensurdecedor quanto o dos radicais petistas nessa briga entre Sérgio Moro e Jair Bolsonaro (por coincidência “silêncio ensurdecedor” é um oximoro, portanto, desculpem o trocadilho involuntário…). O motivo é óbvio, o Moro colocou um bocado de companheiros na cadeia, o Bozo é considerado de extrema direita e perseguidor de petistas. Ficaram da cor de burro quando foge. É até um lugar comum falar isso, mas não resisto: os extremos se tocam. São irmãos gêmeos. São farinha do mesmo saco. Você prefere Stalin ou Hitler? Na minha humilde opinião são dois criminosos, genocidas, do mesmo quilate.

Certas pessoas têm uma enorme capacidade de enganar os circunstantes, às vezes durante anos, quando não a vida inteira. As últimas revelações sobre o comportamento do ex-ministro da justiça, Sérgio Moro, são realmente surpreendentes. Divulgando conversas privadas com amigos íntimos, fazendo acusações levianas e sem prova, enfim, um descalabro total, o verdadeiro amigo da onça. Frustrou-me totalmente. E ainda tem gente defendendo ora um, ora o outro… o pior cego é o que não quer ver.

Sou meio refratário a acreditar no sobrenatural. Mas o comentário do jornalista Paulo Henrique Amorim, falecido no ano passado, prevendo em detalhes essa briga entre o presidente e o ex-ministro é transcendental, parapsíquico. Por falar em meios de comunicação, essa insistência da TV Globo com Bolsonaro está ultrapassando as raias do ridículo. Ficam criticando porque ele escolhe pessoas de sua confiança para cargos de confiança. É o fim da picada.

Como os leitores observaram, desde o título que venho usando expressões do nosso dia a dia. Portanto, encerro aqui os assuntos polêmicos e vamos analisar a origem bem-humorada de alguns desses ditos populares.

Voltar à vaca fria. É retornar a um assunto após longas digressões alheias à causa. Do francês “revenons à nos moutons” – voltemos aos nossos carneiros. Costume português de servir carne de vaca fria antes do prato quente. Os comensais normalmente só voltavam ao tema principal quando faltava o prato quente.

– Cor de burro quando foge. A frase original era “Corra do burro quando ele foge”. Tem sentido porque, o burro enraivecido, é muito perigoso. A tradição oral foi modificando a frase e “corra” acabou virando “cor”.

– Farinha do mesmo saco. “Homines sunt ejusdem farinae” esta frase em latim (homens da mesma farinha) é a origem dessa expressão, utilizada para generalizar um comportamento reprovável. Como a farinha boa é posta em sacos diferentes da farinha ruim, faz-se essa comparação para insinuar que os bons andam com os bons enquanto os maus preferem os maus.

– Amigo da onça. Segundo estudiosos da língua portuguesa, este termo surgiu a partir de uma história curiosa. Conta-se que um caçador mentiroso, ao ser surpreendido, sem armas, por uma onça, deu um grito tão forte que o animal fugiu apavorado. Como quem o ouvia não acreditou, dizendo que, se assim fosse, ele teria sido devorado, o caçador, indignado, perguntou se, afinal, o interlocutor era seu amigo ou amigo da onça. Atualmente, o ditado significa amigo falso, hipócrita.

– O pior cego é o que não quer ver. Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D’Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel.

Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos.

O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver. Atualmente, o ditado se refere a alguém que se nega a admitir um fato verdadeiro.

Já Millôr Fernandes dizia que o pior cego é o que quer ver, pois, quando o quadro é irreversível, dá um trabalho danado…

– O fim da picada. A expressão é usada para descrever situações fora do comum, que são ruins, uma coisa que não deveria ocorrer. Algo é considerado “o fim da picada” quando é desagradável, inconveniente, que incomoda as pessoas. Fim da picada também pode significar o fim de um caminho.

 

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor, aafnegreiros@gmail.com
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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