VIRAMUNDO 14 –

Joaquim Sebastião era conhecido como Jojó do Arrocha e era ambulante. Vendia doces e salgados mais especialmente bolos, pasteis, coxinhas e enroladinhos todos acompanhados de cafezinho e sucos de maracujá e goiaba. Numa folga e outra vendia passagem de ônibus abaixo do preço.

– Como é que você dá conta desses dois serviços? – ora, meu, eu me viro. Sou arrochado.

E era mesmo. Não perdia negócio. Ele vivia ao lado do Midway, chegava às 7 e só saia quando o estoque acabava. Sua clientela era seleta: motoristas de táxis e os passantes, principalmente as mulheres que ele tratava com muita gentileza, sem liberdades. – aqui eu respeito todas, sem exceção. Costumava falar com orgulho.

Era interessante como se vestia. Camisa laranja, medalhão de alumínio com uma corrente grossa, umas pulseiras, boné, óculos escuros, uma bermuda comprida abaixo dos joelhos e  sandálias abertas, de cor marrom.

Ele vendia bem, tanto os lanches como as passagens. Eu quis saber como ele comprava as passagens pra vender mais barato que os ônibus – eu me viro. Vou buscar na fonte.

– Que fonte?

– Segredo. Não posso falar porque senão eles fecham a porta pra mim.

Eu me questiono porque esse pessoal vende passagem mais barata que no próprio ônibus.

– Não é fácil entrar no time. Foi um amigo que me levou. Se o senhor quiser eu lhe apresento. Fico responsável pelo seu trabalho. Eu sei que emprego tá difícil, mas o trabalho taí. É só procurar que acha.

– Há quanto tempo você trabalha como ambulante e vendedor de passagem?

– Desde que eu saí da Guararapes. Lá eu era vigia. A indústria de roupa contratou uma empresa de segurança e eu fui demitido junto com algumas pessoas. Tentei trabalhar na empresa de segurança mas fui reprovado porque sou gordo, arrochado.

– Tinha casado há pouco tempo e aí pedi pra minha mulher fazer sucos e bolos. Comprei duas caixas de isopor e uma vitrina pra colocar salgados que acoplo na bicicleta e vou embora.

Jojó do Arrocha já está nessa vida há três anos e não quer mais trabalhar com carteira assinada. Aqui eu ganho mais e o negócio é meu. Trabalho no dia e horário que eu quero. Trabalho mais do que se fosse empregado.

– Você tem alguma pessoa que admira?

– Nevaldo Rocha, ali é um véio arrochado também.

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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