UMA MENTE BRILHANTE – 

Ariano Suassuna, numa de suas aulas-espetáculo, comentou a opinião de um produtor e jurado de programa de televisão que considerou Chimbinha, o líder da banda Calypso, um guitarrista genial. Naquela oportunidade ele abominou o dito comentário, com a seguinte justificativa: Se eu gasto o adjetivo genial com esse tal de Chimbinha, o que é que eu vou dizer de Beethoven?

Daí a razão para eu não denominar o escritor e poeta paraibano de gênio, pois assim evitarei comparar a sua obra com o legado dos grandes escritores que ele admirava, e aos quais, por modéstia ou humildade, ele não se deixaria equiparar.

Todavia, existe consenso geral na admissão de que Ariano Suassuna possuía características peculiares tais como inteligência, cultura e uma memória prodigiosa, que o transformaram num indivíduo diferenciado. Tudo isso aliado à simplicidade, simpatia e extraordinário carisma.

Afinal, qual outro palestrante de fala feia, fraca, baixa e rouca conseguiria manter uma plateia atenta, silente e interessada nas suas palavras, se fosse desprovido de carisma suficiente para tanto?

Ouvintes de todas as idades deleitavam-se com o conhecimento e a verve do dramaturgo nordestino. Grande admirador do povo e da cultura do Brasil, Ariano gostava de rir e se deliciava em arrancar sorrisos dos outros.

Os variados causos inseridos no transcorrer desses encontros consistiam no diferencial das suas aulas-espetáculo. Eis algumas das pérolas do humor sadio e inteligente, como também do pensamento de Ariano:

Eu não gosto de pintura abstrata porque não entendo o significado de nada! – manifestou-se uma senhora da plateia num desses encontros. Muito me admiraria se você entendesse, porque elas não significam nada! – rebateu Ariano.

Em palestra na inauguração do auditório do Tribunal Superior do Trabalho, em São Paulo, o presidente da casa fez a apresentação de praxe dando ênfase a condição de advogado de Ariano. Ele saiu-se com esta:

Eu achei graça quando ele disse que eu fui advogado. Eu realmente fui… Me desculpem, eu não sei se posso dizer o que direi agora, pois eu estou no templo do Direito. Na verdade, eu estudei Direito por falta de opção. No meu tempo existiam somente três opções: Engenharia, Medicina e Direito. Quem gostava de somar, fazia Engenharia; quem gostava de abrir barriga de lagartixa, fazia Medicina; e quem não dava para coisa nenhuma ia ser advogado – gargalhada geral na plateia.

Falando do seu casamento com Zélia de Andrade, com quem namorava desde agosto de 1947, e por quem ainda se mantinha enamorado, veio à baila o nome do príncipe Charles, herdeiro da coroa britânica. Tascou este comentário:

– Eu sempre desconfiei do bom gosto daquele príncipe. Trocar a princesa Diana por aquela mulher… Não é?… –  referindo-se à duquesa Camila Parker.

Ariano nunca escondeu a sua predileção por palhaço, mentiroso e doido. Por palhaço, em razão das boas lembranças dos espetáculos mambembes da infância; por mentiroso, porque todo escritor é mentiroso, tanto é assim que, nas palavras do próprio autor, o Alto da Compadecida não passa de uma grande mentira.

Por fim, o doido. Segundo um seu irmão, na família Suassuna todos são doidos de atirar pedra; e, quem não é doido junta pedra para doido atirar.

Ariano faleceu em 2014, com 87 anos de idade. Se não foi um gênio conviveu, muito bem obrigado, com uma mente brilhante gerando sua própria luz.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – jnsousa29@gmail.com

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