UMA BANDA MAIS QUE CENTENÁRIA – Tomislav R. Femenick

UMA BANDA MAIS QUE CENTENÁRIA –

No próximo dia 15, a Banda Sinfônica Municipal Artur Paraguai, de Mossoró, fará 104 de fundação. Durante a sua existência, a Banda de Música, como é mais conhecida, teve, entre outros, quatro grandes regentes: Irineu Wanderley, “Sinhorzinho de Cirilo”, Artur Paraguai, o sargento José Mário e João Batista de Souza, o maestro Batista.

Em 16 de agosto de 1967 (portanto há cinquenta e quatro anos), quando a Banda fez meio século de sua fundação, publiquei no Diário de Natal uma entrevista com três dos maestros que fizeram história como seus dirigentes, até então: Irineu, Sinhorzinho e Artur Paraguai, evocando um acerto de memórias no tempo e no espaço, na volta ao passado remoto, quando as bandas de músicas representavam, realmente, um ponto alto da vida de uma cidade. Tempo da polaca, do maxixe, da valsa e das quadrilhas, todo um mundo de lembranças foi aferido pelos maestros.

Dos três, foi “Mestre Artur” o que mais tempo passou como maestro da banda: 41 anos. Terminou vencido pela idade avançada e a aposentadoria lhe foi concedida em 1963, na gestão do prefeito Raimundo Soares. E foi em sua homenagem que a banda de música de Mossoró passou a se chamar de “Artur Paraguai”. Um reconhecimento aos serviços artísticos por ele prestados à terra.

Seu Artur, falando de cátedra, afirmou que: “As músicas da velha guarda serviram de base para ritmos novos”, as bossas que tem tanta aceitação junto aos jovens.  Na época do encontro, a Banda de Mossoró enfrentava muitas dificuldades. Faltavam instrumentos, não existia fardamento e o pior acontecia: faltava entusiasmo para que a banda prosseguisse em trazer música e alegria ao povo de sua cidade. O desânimo era a grande lei de ordem.

As primeiras bandas de música de Mossoró foram a Fênix Mossoroense e a Charanga de Mossoró, dirigidas pelos maestros Alpiniano de Albuquerque e Canuto Bezerra, respectivamente. No ano de 1907, o “Mestre Artur” começava a se dedicar ao aprendizado de instrumentos musicais. Dois anos depois, já fazia parte da Charanga de Mossoró. Mas, pouco tempo depois, as duas bandas morriam por falta de estímulo.

Em 1917, apareceu o “Grêmio Musical Mossoroense”, fundado pela Sociedade União Caixeiral, já sob a direção do maestro Sinhorzinho de Cirilo, e recebeu a primeira subvenção por parte do intendente municipal, o Dr. Jerônimo Rosado.

Foi este conjunto que marcou a história sentimental da cidade com as retretas das quintas-feiras, reunindo todo o mundo na praça para ver a banda passar. Mas, durou pouco: logo depois teve o mesmo destino das outras.

Mossoró ficou largo tempo sem banda de música, até que o padre Manuel Gadelha criou o Grêmio Musical de Santa Luzia. Novamente o maestro era “Sinhorzinho de Cirilo”. Teve sua fase de prestigio, até que terminou seus dias de glórias. Pois os músicos eram pobres e não podiam comprar sequer o fardamento.

Com a ascensão do padre Mota à Prefeitura, em 1935, a banda de música de Mossoró ganhou um mecenas à altura de suas tradições. “O Maestro Artur” voltou à sua direção e ela já tinha nova denominação e roupagem: Banda de Música Municipal de Mossoró, com dezoito componentes, e estava apta a participar de qualquer solenidade e não “fazer feio”.

As retretas voltaram às quintas-feiras, lúcidas e belas, na praça da Catedral, com Padre Mota sentado na sua cadeira de balanço, em frente a sua residência, acompanhando com o pé e uns breves gestos de mãos os dobrados e marchas.

Mas, isso é a história. Hoje, não há mais retretas nas quintas-feiras e a praça da Catedral não está aberta à música, como antigamente. Uma praça, portanto, sem a alegria de outrora. Atualmente os valores e as alegrias são outros, uns mais sofisticados, outros mais vulgares, e as noites são ocupadas pela televisão, a opção dos mais velhos, e os bancos das faculdades, a escolha dos mais jovens que podem arcar com os custos. Mas a Banda Sinfônica Artur Paraguai resiste, moderniza- se e continua viva.

Publicado originalmente em Tribuna do Norte. Natal, 07 ago. 2021

 

 

 

Tomislav R. Femenick – Jornalista, historiador e membro do  IHGRN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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