SURPRESA – Bárbara Seabra

SURPRESA – 

Acho que o chocolate surpresa foi um marco da infância. Meu irmão do meio colecionava os álbuns com as cartas sobre diversos temas que vinham no chocolate. Aliás, o chocolate era uma arte! Vinha em alto relevo com imagens de animais. Achávamos lindo, além de maravilhoso. Tão diferente dos cigarros ou moedas de chocolate Pan que eram ingeridos em grande quantidade só por hábito. O sabor era duvidoso, assim como a escolha de ser um cigarro para crianças…

Hoje penso em como era estranho ganhar de nossos pais uma “carteira” de cigarros de chocolate e imitarmos um adulto fumando… Enfim, sobrevivemos a isso…

O chocolate surpresa foi relançado. Assim como o Lollo e o condicionador Neutrox, que por sinal mudou o perfume e perdeu a graça. Entretanto, o chocolate surpresa chegou como uma fraca imitação do passado. Não tem cartões com a história de algum animal, ficou mirradinho, menos cremoso. Para mim, pura farsa.

Será que é isso mesmo ou é a minha memória gustativa que não está ajustada?

Será que os sabores da infância eram melhores por ser um evento ganhar um chocolate? Ou estou certa sobre o sabor perdido?

Senti-me enganada ao comer o chocolate. Senti  saudade do sabor da infância.

Talvez, na verdade, sinta apenas saudade da infância…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, autora de “O diário de uma gordinha” e escritora

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