SOLUÇÃO DE BATERIA – Alberto Rostand Lanverly

SOLUÇÃO DE BATERIA –

Existem situações em que não sabemos o que fazer a não ser escutar e sorrir. Jesualdo me ligou dizendo que finalmente conseguira alguém para os serviços domésticos da casa em que morava à beira mar, aquela mesma dita mal assombrada.

Era um ex-presidiário hiatiano que exigia ser chamado de Monsieur Guirré. Cozinhava exuberantemente, mas tinha o mal costume, ao terminar de servir o almoço, tomar uma lapada de 51, deitava na rede em seu quarto, onde dormia roncando sem parar, sempre nu, com a porta aberta, segundo ele para sentir a brisa do oceano, acariciando as suas “partes”.

Após muito reclamar, em vão, Jesualdo resolveu agir. Naquela tarde, pé ante pé, entrou no aposento do mordomo, encontrando-o a suspirar e grunhir, então com um espeto de ferro, levantou o bilau do adormecido, nele amarrando um barbante que já tinha a outra extremidade fixada no telhado.

Logo depois já escondido, jogou três latas vazias dentro do local, que ao caírem provocaram grande barulho. Monsieur deu um pulo amedrontado e quando tentou correr, ficou preso pelos “pertences”, quase morrendo por estrangulamento. Imagine a cena: o homem na ponta dos pés, segurando as partes baixas, tentando salvá-las.

Nesse mesmo dia, com problemas em seu carro, Jesualdo facilmente detectou a questão ser o nível da solução de bateria que estava baixo. Ao tentar completar, o líquido derramou nas ferramentas que trazia para fixar parafusos. Ao término do serviço, inadvertidamente, limpou as peças com um pano de enxugar louças, que estava dependurado no varal. Como já era quase noite e o tecido ficara ensopado, o estendeu ao lado do fogão aquecido para secar com rapidez.

Monsieur Guirré, sem nada falar sobre o acontecido mais cedo, serviu o jantar como de costume, repentinamente faltou energia elétrica na região. Jesualdo, levantou, e acendeu algumas velas para clarear o ambiente.

Minutos depois, quando menos se esperou, gritos horríveis foram ouvidos. O cozinheiro, passou voando porta afora e disparou para o arruado. Jesualdo quase morreu de medo. A seguir, chegou na casa, uma procissão de pessoas, inclusive o padre e o delegado.

Monsieur Guirré, falava que ao pegar no pano para enxugar os pratos, esse se esfarelou por completo enquanto um homem voava no ambiente e a tarde tinham tentado arrancar o seu pinto com um cordão. Só podiam ser os mortos voltando para buscá-lo.

Rapidamente Jesualdo lembrou haver molhado o tecido com solução de bateria, que por ser um líquido corrosivo, tinha destruído a peça de tecido. E para completar, justo na hora do imbróglio, ele se encontrava por detrás da cortina na cozinha, com uma lanterna na mão, que por certo gerou a sombra que tanto amedrontou o paquistanês.

Para concluir o aprontador de “causos” falou: “- Rostand adoro a minha casa, mas estou começando a achar que nela existe influência do capeta”. Como de costume, eu só escutei e ri muito. Uma figura o Jesualdo.

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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