Nelson Freire  

             A palavra solitudine em italiano é uma das palavras mais bonitas que conheço. É a mesma soledad do espanhol. Mas é sempre solidão. E em qualquer idioma “a solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas, prima irmã do tempo”, como nos versos de Alceu Valença. É você estar só, contra a sua vontade, geralmente triste, isolado, cabisbaixo, olhando-se num espelho e vendo o tempo passar. Buscando companhia sem ter onde encontrar. Querendo falar com alguém sem ter essa pessoa por perto. Saltando aos olhos que o que lhe falta é o alimento para o seu espírito e a sua alma.

            A única solidão saudável é aquela que é exercitada de livre e espontânea vontade. Para reflexão, para se iniciar algum processo criativo. Para se buscar o entendimento das coisas transcendentais como a vida e a morte. Essa solidão é diferente, porque acontece de forma consciente. Ocorre quando a pessoa se dá ao direito de crescer interiormente, pondo as ideias em ordem. É benéfica enquanto se instala por escolha própria. Oportunidade em que se exercita o labor do pensamento. É uma solidão, portanto, apenas aparente e necessária. Confirmando o que já dizia Cascudo, “você nunca está sozinho quando pensa”. Quando se debruça no estudo e na leitura, você está em sintonia com a humanidade e o próprio universo.

                Já outras vezes, mesmo acompanhado, você pode estar completamente só. E, no meio de uma multidão, sentir-se num deserto. Sem sintonia com os que lhe rodeiam. Sofrendo a falta de cumplicidade e aconchego. Vivenciando uma realidade adversa ao seu verdadeiro instinto. Que pode ter inúmeras razões para estar existindo naquele momento. Mas, como afirmou Carlos Lacerda, “não se deve temer essa solidão, se ela for necessária, ou inevitável”.

             Devemos, sim, buscar a raiz do mal que a originou e tratar de extirpá-la. Pois o bom mesmo é estar rodeado de gente que comungue conosco. É conviver bem com as pessoas, passar e receber energia, pois somente assim se pode viver em harmonia consigo mesmo e com os outros. Ouvindo o belo som da vida, da nossa existência. E sentindo que, apesar de todos os pesares, a terra é azul e a vida é bela.

Se o dia é o paraninfo das cores, a noite é a madrinha dos sons. Ela nos conduz pelos silenciosos caminhos da reflexão e do pensamento, fazendo rufar os tambores em nosso cérebro, levando-nos a viagens inimagináveis dentro do nosso próprio universo particular. Tão complexo e vasto quanto a vastidão e a complexidade do conjunto de todos os sóis e de todas as galáxias.

A noite é amiga do silêncio, mas paradoxalmente se transforma em íntima dos sons. Os sons da alcova, os sons das melodias, da música do vento e dos mistérios. Os sons da nossa consciência, do pensamento, da criatividade, da nossa ousadia em refletir, em projetar, em processar, em formatar as ideias que eclodirão no primeiro clarão do dia.

A noite liberta os sentimentos mais escondidos de dentro da nossa alma. E nos faz ouvir com nitidez inigualável o som da nossa própria voz. A noite faz os sonhos sonhados virarem referenciais à luz do dia. A noite sopra nos ouvidos atentos à reflexão da vida. A noite nos inspira à profissão de fé nas nossas ideias e nos nossos ideais.

Realmente precisamos ficar a sós muitas vezes. Ocasiões especiais, quando a reflexão se torna imprescindível para a compreensão das coisas, dos nossos atos, da nossa própria vida.

Nelson FreireEconomista, Jornalista e Bacharel em Direito

 

 

Ponto de Vista

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