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Sérgio Moro dá sua primeira entrevista à televisão brasileira

Em sua primeira entrevista à televisão brasileira desde o início da Operação Lava Jato, em março de 2014, que realizada ontem à noite no programa Roda Viva, da TV Cultura, o juiz federal Sergio Moro defendeu a importância da prisão após condenação em segunda instância judicial. O magistrado, assim como os demais integrantes da força-tarefa da Lava Jato, tem insistido que o Supremo Tribunal Federal (STF) não reveja sua atual posição sobre o tema. “Eu tenho expectativa de que esse precedente não vai ser alterado” disse ele. Moro afirmou que “Isso na prática é impunidade e, de uma maneira bastante simples, essa generosidade de recursos consegue ser muito bem explorada por criminosos”.

O juiz da Lava Jato declarou que o número de recursos disponíveis às defesas, em alguns casos, gera a prescrição dos processos e, por consequência, a impunidade. Na entrevista ele buscou se desviar de perguntas relacionadas ao julgamento, no STF, de um habeas corpus para evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado por ele em primeira instância no processo referente ao processo do tríplex no Guarujá. “Não me cabe fazer uma observação específica sobre esse habeas corpus”. Moro afirmou, ainda, não acreditar na possibilidade de um “acordão” para livrar Lula da cadeia. “Eu simplesmente, como juiz, não posso acreditar em uma hipótese dessas. Eu já trabalhei convocado no STF, já vi como ele funciona e não posso simplesmente acreditar nisso”, disse ele, aos entrevistadores. “É importante que as instituições mostrem uma firmeza”, completou.
Ao falar sobre o instrumento do habeas corpus, ele disse que “No Brasil houve uma certa largueza na utilização do habeas corpus, mesmo quando não há prisão. Muitas vezes, quando você não tem prisão, o remédio é o devido processo legal, é esperar o julgamento.” Ao ser questionado sobre o foro especial, o juiz disse acreditar que o Supremo “não é preparado para julgar esses casos” e que é preciso eliminar ou reduzir bastante sua aplicação. “Eu não sou censor do Supremo. Mas o foro não funciona muito bem”, afirmou. “As coisas vão mais lentamente no STF”, completou.

Ainda sobre o ex-presidente Lula, Moro defendeu sua atuação no episódio da divulgação de áudios dos grampos contra o petista. O magistrado levou um puxão de orelha do então relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki, ao divulgar os áudios em que a então presidente Dilma Rousseff (PT) aparecia combinando uma “posse secreta” a Lula como ministro da Casa Civil em uma tentativa de garantir ao ex-presidente a prerrogativa de foro. “Nunca entendi que eu errei naquele episódio”, disse Moro. “Aquele conteúdo não dizia respeito à vida privada”, argumentou o magistrado.

O juiz federal Sergio Moro mandou um recado sutil à ministra do STF Rosa Weber, cujo voto é considerado crucial na decisão sobre conceder ou não habeas corpus ao ex-presidente Lula, em sessão marcada para o dia 4 de abril. Ao citar a qualidade dos ministros do Supremo, ele mencionou dois: o decano, Celso de Mello, e Weber, a quem fez fartos elogios. “Tenho apreço especial pela ministra Rosa Weber, com quem trabalhei. Pude observar a seriedade da ministra, a qualidade técnica da ministra”, disse Moro, que foi auxiliar dela no caso do mensalão. “Tenho expectativa de que esse precedente não vai ser alterado”, declarou, em referência à decisão de 2016 da corte, que autorizou a prisão após condenação em segunda instância, caso de Lula.

Confrontado com o fato de receber auxílio-moradia, mesmo tendo imóvel próprio em Curitiba, Moro disse não falar pelos juízes, mas defendeu que o benefício seja usado para compensar a falta de reajuste salarial. “Não vejo a imprensa abordar que existe esse problema da falta de reajuste de vencimentos há uma longa data”, disse. Moro foi questionado ainda sobre o filme “Polícia Federal – A Lei é Para Todos” e o seriado “O Mecanismo”, lançados recentemente e inspirados na Lava Jato. Disse que viu ambos. “Os dois produtos têm suas qualidades, mas há uma série de liberdades criativas que são tomadas. Não retratam propriamente a realidade como aconteceu.” Ele, no entanto, disse haver situações “que conferem com o que apareceu na realidade”.

O programa de ontem à noite foi o último comandado pelo experiente jornalista Augusto Nunes. A entrevista bateu recordes de audiência e chegou a ser o assunto principal no twitter, em todo o mundo. Antes da entrevista, manifestantes prós e contra Moro se aglomeraram nas proximidades da entrada principal da TV Cultura.  Participaram da entrevista o editor-executivo da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila, o diretor de jornalismo do Grupo Estado, João Caminoto, a diretora de Redação da Época, Daniela Pinheiro, o diretor de jornalismo da Bandeirantes, Fernando Mitre, e o jornalista Ricardo Setti.

Ponto de Vista

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