SE FOSSE PRECISO, EU FARIA TUDO DE NOVO – Keillha Israely

SE FOSSE PRECISO, EU FARIA TUDO DE NOVO –

Os sacrifícios que uma mãe pode fazer por um filho vão, muitas vezes, além do que a capacidade humana pode imaginar. Ao longo de quase quatro anos, atuando como assistente social na Casa Durval Paiva, já me deparei com muitas histórias de desafios, superações e vitórias, mas a história que vou relatar, me marcou profundamente. Assim, destaco que, visando resguardar a identidade dos usuários, serão utilizados pseudônimos.

Num determinado dia, recebi na sala do serviço social, Maria, acompanhada de seu filho João, chegaram encaminhados pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL. Maria era jovem e estava visivelmente assustada, morava num município da região oeste potiguar e nunca tinha vindo a capital. Saiu de sua cidade, certa de que viria à Natal para tratar o filho de uma doença chamada glaucoma, que ela não sabia ao certo o que era, mas foi informada que era no olho. Ao chegar no grande hospital, perto do mar, ela descobriu que o filho tinha um “caroço” no olho (retinoblastoma) e que precisaria retirar o mais rápido possível.

Sozinha e com muito medo, Maria ficou esperando o filho voltar da cirurgia. O impacto, ao recebê-lo, foi inevitável. Seu filho, ainda bebê, como menos de um ano de vida, estava sem um olho, como isso a chocou. Porém, ela não imaginava que a permanência na capital seria prolongada, pois o menino precisaria ser acompanhado por uma médica oncologista. Com consulta marcada, Maria foi encaminhada para uma casa de apoio, onde ela iria ser abrigada, durante o tratamento de João.

Ao chegarem, mãe e paciente, foram recebidos e passaram por uma escuta qualificada. A mãe não fazia ideia de que o tratamento só estava começando. Após a consulta e todas as explicações médicas, o medo e os questionamentos aumentaram. Um fato que chamou a atenção foi a fala da mãe, que, ao ficar internada para primeira internação com o filho, viu escrito na roupa que este vestia, que estava na Liga Norte Riograndense contra o câncer e isso a inquietou, será que meu filho está com câncer?

O impacto inicial sofrido pelas famílias, no começo do tratamento oncológico, é tão grande, que, por mais que a equipe médica explique, não é nada fácil entender e assimilar as informações. Com o passar do tempo, Maria foi entendendo o tratamento e toda situação que ela estava vivenciando. Com pouco mais de um mês de quimioterapia, o filho precisou ser encaminhado para São Paulo, lugar de referência para tratamento de retinoblastoma, e visando salvar o outro olho, essa ida deveria ser com urgência. Assim, mais uma vez, Maria sofre o baque da notícia e é tomada por mais uma enxurrada de dúvidas e questionamentos.

Como ela, que nunca tinha saído da sua cidade, iria para uma cidade desconhecida, grande e com pessoas desconhecidas? Porém, ela não pensou duas vezes, foi até sua cidade, pegar os pertences pessoais e começou a corrida contra o tempo. Busca pelas passagens via Estado – Tratamento Fora de Domicílio (TFD), reserva na casa de apoio para recebê-los, uma pessoa de confiança, que pudesse buscá-los no aeroporto, tudo isso, com muita agilidade. Maria, mais uma vez, enfrentou seus medos e foi em busca da cura de seu filho.

Foram 10 longos meses de tratamento, sem poder vir em casa. João, mesmo após as tentativas, precisou retirar o outro olho, outro impacto sofrido. Porém, conseguiu concluir o tratamento, na capital paulista, e voltou para casa já com suas próteses e um novo mundo, cheio de novas descobertas.

Hoje, o acompanhamento em São Paulo é a cada 3 meses e Maria não tem mais as mesmas características de quando chegou na minha sala, eu olho pra ela e vejo outra mulher. Às vezes, uso sua história como exemplo, para encorajar outras Marias e quando eu pergunto a ela o que me diz da sua experiência, ela me diz: “se fosso preciso, eu faria tudo de novo”.

Essas são algumas das histórias de superação que nos mostram como é desafiador o tratamento oncológico, cheio de desafios, percalços, mas também conquistas e vitórias, histórias que nos impulsionam e motivam todos os dias.

 

 

 

 

 

Keillha Israely – Assistente Social Casa Durval Paiva, CRESS/RN 3592

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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