SAÚDE OU ECONOMIA? – Roberto Goyano

SAÚDE OU ECONOMIA? –

Chegamos ao fim do primeiro trimestre.

Estamos já no outono que se inicia tenebroso. A pandemia recrudesceu de uma forma assustadora levando ao colapso a rede pública de assistência à saúde e sobrecarregando sobremaneira a rede privada.

Insumos básicos para o atendimento de casos mais graves chega a um nível extremamente crítico e, em alguns locais, até mesmo oxigênio chega a faltar.

Estamos de fronte ao velho dilema de sempre: isolamento social severo com a paralisação das atividades não essenciais contra a necessidade de trabalho.

O isolamento social é decretado em vários estados e municípios, com maior severidade, afetando fortemente o comércio e os serviços.

Protestos tanto da classe trabalhadora quanto dos comerciantes pipocam pelo país.

Não há como tirar a razão de todas as partes envolvidas, seja o estado ou os afetados por essa situação.

Temos que levar em conta a impossibilidade de ficarmos longos períodos confinados quando dependemos do trabalho para nosso sustento.

Algumas empresas ainda conseguem trabalhar remotamente, não é o caso da grande maioria.

No ano que quase se foi, assim me expresso porque parece que nada mudou em termos pandêmicos, tivemos uma injeção na economia, bancada pelo governo federal, da ordem de $ 320 bilhões como suporte aos trabalhadores e empresas, isso é de conhecimento de todos.

Nos dias atuais, após a perda de três meses para alguma providência por conta de aguardar a aprovação da ¨barafunda¨, digo orçamento 2021, ficou estabelecido um auxílio para a classe trabalhadora de 04 parcelas no valor médio de R$ 250,00, valor insuficiente para que se tenha suporte a uma paralização mais longa.

Não foi previsto suporte às empresas nos mesmos moldes anteriores o que deixa todo um setor econômico à própria sorte, isso poderá gerar uma avalanche de falências e eliminação de postos de trabalho.

É preciso dizer que já existe alguma movimentação, tardia, para repetir o que foi feito no passado, tamanha as pressões exercidas pelos empresários.

A justificativa para essa drástica redução no auxílio é a falta de dinheiro.

Pois bem, a partir da premissa de falta de recursos coloco alguns fatos, entendam, não estou falando de minha opinião.

Do valor de $ 320 bilhões de auxilio emergencial mais da metade retornou aos cofres públicos sob a forma de impostos, taxas e contribuições, ou seja, valor que é mais que o dobro do total do auxílio previsto no orçamento de 2021 (44 bilhões).

O segundo fato que chama a atenção é o brutal aumento para verbas parlamentares em ano pré-eleitoral em detrimento de uma situação caótica envolvendo o país.

Não me parece uma solução sensível aos acontecimentos, isso deixa claro a intenção da pavimentação da pré campanha para o próximo ano.

O terceiro fato é manter verba para aumento de salário dos militares.

Esses valores somados (48 bilhões) já é maior que o auxílio hoje previsto.

Já há movimentação, embrionária, de auxílio às empresas fazendo-a através de despesas extraordinárias.

Após a enumeração de fatos, vou me aventurar a tecer alguns comentários colocando-os para analise e críticas dos especialistas.

A condição sine qua non para deslanchar a economia é a vacinação que caminha ainda lentamente, muito embora tenhamos uma melhor perspectiva, tanto de alternativas, quanto de velocidade.

Com o colapso da saúde é mandatório um lockdown por um período de pelo menos 30 a 45 dias, com isso, mais o avanço da vacinação, teríamos certo alívio na pressão sobre as hospitalizações e ainda daria tempo para recompor os insumos hospitares que passam por uma crise de abastecimento.

Para que possamos fazer isso os suportes, tanto para os trabalhadores quanto para as empresas, teriam que estar disponíveis e, no mínimo, com os mesmos valores do auxílio anterior, ainda que por um período menor de tempo, arrisco aqui um número, 3 meses..

Não há, sem essa solução, como manter um imenso contingente de trabalhadores presos em casa, a fome também mata.

Vejo como solução, ainda que não seja consenso, o que tenho comentado sempre, o Quantitative Easing ou seja, emissão de moeda.

Em outros artigos citei importantes economistas que são adeptos da ideia, tais como Henrique Meireles, André Lara Resende, Raul Veloso e outros de instituições respeitadas como a FGV.

Apesar de ser uma dívida, esta não é encarada como uma dívida formal que exige a emissão de títulos para colocação no mercado afetando a tão famosa relação Dívida/PIB.

É uma dívida do Tesouro Nacional para com o Banco Central ou seja, do governo para o governo.

Essa emissão, feita dentro de montante pré-estabelecido, direcionada e com rigoroso controle, é uma solução viável na situação atual. Exemplos disso temos tanto na Europa quanto Estados Unidos e Japão.

A prioridade é se dar a devida importância à questão sanitária sem perder de vista a situação da economia.

Não há como escapar disso, liberar a economia hoje, na sua plenitude, teremos em menos de um mês o caos instalado em todo o país.

Não sou a favor de paralizações tópicas, ou se faz para valer ou que se arque com a consequência.

Já temos na Europa nova onda de contágio e o consequente anúncio de lockdown em vários países.

Nada foi pensado sobre investimentos públicos para a absorção do contingente de desempregados.

Em nenhum momento alguém levantou a voz para derrubar a inconstitucionalidade (não sei se essa interpretação do supremo foi acertada, a constituição é clara) da redução de salários e consequente carga de trabalho do setor público que daria maior mobilidade ao governo.

Aliás, em que pese todo meu respeito a essa classe de trabalhadores, em momento algum os funcionários foram afetados pela situação instalada, sobrando a carga toda para a área privada.

Não há nada além de críticas a favor e contra a paralização, nada além de cobrança de mais leitos.

Repito, não há como contestar que um lockdown severo por um período definido, com suporte adequado às empresas e trabalhadores, reduziria o contágio e aliviaria a ocupação do sistema de saúde.

Esse tempo, definido em escala nacional, acredito eu, é vital para evitarmos um caos maior do que o já instalado no país com mais de 300 mil mortes como resultado.

A prioridade maior deveria ser preservação à vida, o bem estar social que, lamentavelmente, estão sendo substituídos por uma luta insana pelo poder.

Poderia até afirmar, sem medo de errar, que a falta maior que temos é responsabilidade.

Vejo festas e mais festas, praias lotadas, eventos clandestinos, confraternizações e até mesmo atos públicos presenciais.

Não há como priorizar somente a saúde pois ela envolve também a componente econômica, são siamesas na situação atual.

Para situações extremas, como a que vivemos, ações especiais têm que ser tomadas.

Nesse embate saúde contra economia deveríamos ter como resultado a responsabilidade socioeconômica.

Espero que a sensibilidade e expertise dos atores políticos e econômicos convirjam para ações efetivas revertendo tão severa situação.

 

 

 

 

Roberto Goyano – Engenheiro

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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