REFLETINDO NO  RALUIM –

Fui a uma festa de raluim na academia de artes marciais onde treinam os meus filhos pequenos. Confesso que fui apenas para acompanhá-los, já que estavam muito entusiasmado para participar do furdúncio aterrorizante. Como as atividades realizadas por recreadores deixavam os pais muito mais em estado de disponibilidade para acorrer a qualquer altercação entre bruxinhas e duendes ou entre caveiras e zumbis, recolhi-me a um cantinho do estabelecimento para refletir sobre alguns temas, ligados à xenofobia, com pertinência àquele local e àquela súcia de espevitados defuntos e similares.

O primeiro é para atender à indagação, posta de forma evidente ou velada, sobre por qual razão coloquei a minha turminha para habilitar-se em maneios corporais nipônicos, ao invés de encaminhá-los a uma escola de capoeira, para que aprendessem a dar pinotes e rabo-de-arraia ao som de um bem tocado berimbau, ê camará! Resposta sem muitos arrodeios: nada contra a  ginga que expressa brasilidade e com que trabalhamos desde os tempos coloniais, como arma disfarçada dos negros escravos para reagir aos maus-tratos dos feitores. Acho bonito o bailado, cheio de fleuma e esperteza. Mas escolhi a leveza do jiu-jítsu por comodidade logística (buscar e levar etc.) e por admirar a filosofia do desporto japonês, que une respeito, delicadeza e precisão nos gestos. Espero que façam bom proveito dessa oportunidade de educação complementar. Nenhuma motivação especialíssima de submissão ao Império do Sol Nascente. Sou miúdo demais para essas coisas…

E sobre participar de uma zoeira de raluim? Seria a rendição a um modelo exógeno  de diversão, trocando os nossos medos pelos terrores deles, em subserviência cultural? É outra besteira grande esse questionamento. O lúdico, por si somente, não tem força para impulsionar ou desmanchar convicções ideológicas de ninguém! Melhor dizendo, pelo menos as minhas! Reforça, relembra, dá um molho, convida, estimula. Mas uma rediviva Bruxa de Salém não esculhamba o  malandreco Saci-Pererê, bem como um Ogro não abate a nossa  Mula-Sem-Cabeça.

Se o negócio é festivo, bota essa cambada toda para dançar, ao embalo  de cítaras, guitarras, sanfonas, zabumbas e caxixis,  entremeando guardas e rasteiras,  repulsando as patrulhas do ter, do ser e do fazer.

 

Ivan Lira de CarvalhoJuiz Federal e Professor da UFRN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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