A descoberta foi feita no Museu Câmara Cascudo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O material tinha sido coletado há cerca de 40 anos na região da Chapada do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, porém, até então, os pesquisadores só tinham identificado fósseis de peixes em meio ao material.
A nova descoberta foi registrada pela paleontóloga Aline Ghilardi, professora da UFRN, em parceria com colegas.
Ela conta que o aluno de biologia William Bruno de Souza Almeida estava fazendo uma pesquisa sobre os fósseis de peixes encontrados no Araripe, mas não reconheceu uma das estruturas e separou o material para mostrar para a orientadora.
“Curiosamente, eu tinha lido algumas semanas antes um trabalho publicado falando sobre a histologia de dentes de uma espécie muito próxima dessa nova que a a gente descobriu, que é o pterodástro, um pterossauro filtrador da Argentina. Então a imagem daquele pterossauro estava na minha cabeça. Quando eu olhei esses fósseis, eu falei: ‘É igualzinho aquilo'”, conta a professora.
Além de identificar os fósseis, a professora percebeu que eles faziam parte de um regurgito. Os ossos eram de dois indivíduos do Bakiribu waridza – o primeiro pterossauro filtrador já registrado nos trópicos e o primeiro representante do grupo Ctenochasmatidae descoberto no Brasil, segundo o estudo publicado na revista Scientific Reports.
De acordo com os pesquisadores, esse raro tipo de preservação por meio do regurgito também comprovou uma interação direta entre predador e presa, apontando que o animal fazia parte da cadeia alimentar dos dinossauros da região.
“É uma massa relativamente grande. Com base em estudos atuais, os animais normalmente não regurgitam tudo que está no seu estômago, então o que a gente tem ali é grande e, apesar disso, não era tudo o que cabia no estômago do animal. Os únicos animais com esse porte, nesse ecossistema, que a gente conhece até o momento, são os dinossauros”, diz a professora.
O nome escolhido para a nova espécie reflete a herança indígena Kariri, povo originário da Chapada do Araripe. Bakiribú significa “pente” e waridzá, “boca”, em referência às centenas de dentes finos e alongados que o animal usava para capturar alimento na água — um modo de alimentação semelhante ao dos flamingos modernos.
O animal exinto era pequeno “como um gato”, envergadura de aproximadamente um metro nas asas e tinha o corpo coberto por pequenofibrilas, estruturas que lembram penas das aves. Com mandíbulas muito longas e centenas de dentes finos e curvados, parecidos com os das baleias, o Bakiribu filtrava pequenos organismos aquáticos, como crustáceos.
De acordo com a pesquisadora, a estrutura dental dessa espécie representa um “estágio intermediário” na evolução dos pterossauros filtradores, do grupo Ctenochasmatinae. A morfologia dela combina características de fósseis encontrados na europa e em outros países sul-americanos.
“Não que ele seja uma espécie intermediária entre as duas, mas ele tem características intermediárias, o que ajuda a gente a entender como foi a evolução desse grupo”, diz a professora.
De acordo com a professora, já havia cinco espécies descritas, dentro desse grupo de animais, e a nova descoberta no Brasil “fecha uma lacuna” na distribuição dos pterossauros pelo mundo.
“Se a gente pensar na posição dos continentes no passado, quando esse animal existiu, ele conecta esse corredor onde estavam distribuídos esses animais”, diz a professora.
Segundo a pesquisadora, no período em que os indivíduos encontrados viveram, dezenas de milhões de anos antes do surgimento do Tiranossauro Rex, o Nordeste brasileiro era coberto por uma grande laguna de águas calmas e salobras conectada com o mar.
Nessas águas viviam os peixes e outros espécimes dos quais o pterossauro se alimentavam. A região também era povoada por grandes dinossauros pisívoros, ou seja, que se alimentavam de peixes. Eram grandes espinossaurídeos, como o irritator, o angaturama, descobertos na região.
Possívelmente foi um desses animais que se alimentou dos pterossauros identificados na UFRN, diz a professora. A descoberta aponta que os pterossauros também faziam parte do “cardápio” deles.
Os estudos contaram com uma equipe multidisciplinar da UFRN, incluindo Claude Aguilar, responsável pela coleção paleontológica do Museu Câmara Cascudo, e Tito Aureliano, pesquisador associado à UFRN e à URCA (Universidade Regional do Cariri).
Para auxiliar na descrição da nova espécie, os cientistas convidaram os especialistas em pterossauros Rubi Pêgas (MZ-USP) e Borja Holgado (URCA/ICP).
Segundo a professora Aline Ghilardi, os fósseis serão dividido entre o Museu Câmara Cascudo (UFRN) e o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri (CE), garantindo a preservação da peça no território de origem, dentro de discussões sobre colonialismo científico.
O material será oficialmente entregue ao museu cearense em um evento público programado para o final deste ano.
Segundo a professora da UFRN, outras pesquisas poderão ser feitas no futuro com base na descoberta. É possível fazer análises para entender com mais precisão do que o animal se alimentava e em que tipo de ambiente vivia e análises químicas para revelar mais detalhes sobre a composição e preservação do fóssil.
Uma tomografia computadorizada de alta resolução, por exemplo, pode mostrar se existem ossos ainda ocultos dentro da rocha, não visíveis na análise superficial.
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