Os impactos para produtor e consumidor
No momento, os maiores prejudicados pela crise dos fertilizantes e agrotóxicos são os produtores dos EUA, que já vão dar início ao plantio da safra 22/23, explica Cogo.
No momento, ainda há fertilizantes e agrotóxicos no mercado brasileiro. O que acontece é a menor quantidade destes produtos, com faltas pontuais e preços mais altos.
O Globo Rural do dia 7 de novembro trouxe relatos dos produtores que não estão conseguindo adquirir estes insumos.
No cenário atual, a perspectiva dos especialistas é de que a safra 21/22 não vai ser afetada diretamente pela escassez desses ingredientes, pois os agricultores geralmente compram estes insumos com antecedência.
Contudo, a safrinha do milho plantada no início do ano que vem e a safra 22/23 podem ser fortemente prejudicadas se o cenário não for revertido. “Tem esse risco de indisponibilidade mesmo (dos fertilizantes e agrotóxicos), caso a situação da crise energética não se normalize”, afirma Bellotti.
Cogo afirma que não dá para determinar se a produtividade vai cair ou não por causa da escassez destes itens, exceto em casos da lavoura ser afetada por uma erva daninha, por exemplo, e o agricultor não conseguir combatê-la.
Ele acredita que as safras atingidas serão, em maioria, a de trigo e de cevada, plantadas em fevereiro e maio, além da safrinha de milho. O grande impacto deve ocorrer mesmo no segundo semestre de 2022, quando os produtores vão reabastecer seus estoques.
Apesar de a oferta ainda não estar em um momento mais crítico, os preços dos produtos já impactam no bolso do agricultor. Segundo a reportagem do Globo Rural, para comprar uma tonelada de fertilizante, o produtor de soja agora tem que vender mais. A quantidade que antes podia ser adquirida com a comercialização de 18 a 20 sacas de soja, hoje precisa da venda de 24.
O glifosato lidera o avanço dos preços, com uma alta de 126,8%, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). De modo geral, os defensivos e fertilizantes tiveram altas que superaram 100% no ano até setembro, apontou a instituição.
Parte disso pode refletir para o consumidor, sendo responsável, em parte, pela alta da carne, já que a soja e o milho, por exemplo, são transformados em ração, diz o coordenador de produção agrícola da CNA, Maciel Silva.
Contudo, ele explica que este cálculo também depende de outras questões do mercado, por exemplo, o poder de compra que o consumidor possuirá no ano que vem.
Oportunidade para orgânicos?
Apesar de existir a possibilidade de substituir adubos químicos por orgânicos, Carlos Eduardo Vian, da Esalq, explica que é muito difícil para o produtor conseguir esterco e compostagem, por exemplo, em grandes volumes e rapidamente.
De mesmo modo, existem possibilidades de proteger a plantação sem agrotóxicos mesmo em grandes áreas, por exemplo, com o uso da Integração Lavoura Pecuária Floresta – que conta com predadores naturais dos invasores – ou até mesmo a partir de bioinsumos, explica Pablo Souza, professor do curso de agronomia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Mas essas saídas exigem investimento e tempo para que os agricultores as apliquem no campo e criem confiança nelas, aponta.
O governo federal pretende antecipar os pedidos de registro de novos fornecedores de fertilizantes e agrotóxicos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), afirmou o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas do Ministério da Agricultura, Carlos Goulart.
Para Lohbauer, da Croplife, a medida pode não funcionar devido à intensidade do problema, já que, no fim das contas, os novos fornecedores também enfrentariam a escassez de matéria-prima.
Já para Cogo, a política pode ter efeito a curto prazo, pois abriria um leque maior de opções para os agricultores. Porém, ele acredita que o que pode realmente ajudar a produção é a diplomacia, porque muitos dos países, como a China, são grandes consumidores da agropecuária brasileira, portanto, também se prejudicam com a baixa comercialização dos insumos para o Brasil.
O governo também estuda implementar o Plano Nacional dos Fertilizantes, que tem por objetivo diminuir a dependência externa, estudando a implementação de propostas legislativas para facilitar a produção do item no país.
Esta solução, sim, teria efeito a longo prazo, aponta Lohbauer. O debate de retomar as fábricas brasileiras voltou perante a esse cenário e tem dois lados interessantes a serem considerados, diz o presidente da associação que reúne os fabricantes.
Para ele, os produtos podem acabar saindo mais caros ao serem feitos no Brasil, mas, por outro lado, isso geraria fornecimento garantido, independente da situação externa.