PONTO DE VISTA DE ALFREDO BERTINI

O SOPRO INSPIRADOR DA POESIA MUSICAL: A ARTE FAZ BEM SUA PARTE –

Parece-me que, na maioria das vezes, é melhor não esperar pela danada da inspiração. Muitas vezes, um fato solto que passa despercebido, ou mesmo, uma simples tomada de atitude faz com que esse senso inspirador surja naturalmente. E por essas vias, aquela etérea forma de inspiração costuma ficar ao alcance, firme e forte.

Confesso que durante algum tempo – não sei bem precisá-lo – tive vontade de expressar meu apreço por quem consegue por poesia em notas musicais. Penso que ser letrista, enquanto artífice da dupla missão de dar musicalidade a um poema, representa uma entre raras funções exponenciais da criatividade e do talento. Assim, minha inspiração para fazer valer publicamente meu reconhecimento, dependia de pouco. Quem sabe, apenas um sopro. E esse veio livre e leve, só que em duas direções.

A primeira, pela reconfirmação de que nossa Academia é aberta para quem faz arte e cultura, desde que trate com o devido zelo as letras. Isso, claro, independente delas se fazerem presentes numa música, num filme ou numa peça. A segunda, porque havia recebido dias atrás, de um ilustre (e letrado) colega economista, Marcos Formiga, uma belíssima mensagem. A mesma estava baseada num texto revelador sobre essa simbiose poética, de quem faz letras para músicas e os que as escrevem para fins literários. Para mim, o tal texto ecoou como uma referência sobre a força poética de tantas letras, que garantiram sucesso à nossa música popular. Do sopro ao voo, foi só um breve passo. Ou um “bater asas”.

Não vou aqui me ater, na riqueza dos detalhes daquele texto enviado, que deu tanta ênfase ao “(en)canto das palavras”. Omitirei, por exemplo, poemas escritos que se tornaram, incrivelmente, letras melódicas. Algo que Fagner conseguiu fazer muito bem, com versos de Cecília Meirelles e Ferreira Gullar. Prefiro aqui, neste meu texto, extrair outras jóias. Algumas presentes no texto enviado. Mas, a maioria, é escolha pessoal de quem reconhece o talento poético, em músicas que me sensibilizam. Tocam n’alma. Arrepiam.

Do texto, que tal essas referências ao amor:

– Queixo-me às rosas, mas que bobagem, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam, o perfume que roubam de ti” (Cartola);

– “Se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu” (Chico Buarque);

– “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” (Renato Russo).

A esse repertório, acresço aqui outras escolhas muito pessoais:

– “Só eu que podia, dentro da tua orelha fria, dizer segredos de liqüidificador” (Cazuza);

– “Você foi a mentira sincera, brincadeira mais séria, que me aconteceu” (Isolda);

– “Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão, o meu som, a minha fúria e essa pressa de viver;
Esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo de novo com paixão, andar caminho errado pela simples alegria de ser” (Belchior);

– “Por ser exato, o amor não cabe em si; por ser encantado, o amor revela-se; por ser amor, invade e fim” (Djavan).

Afinal, em termos de falar sobre a grandeza do amor, cabe um arremate final do próprio Djavan: “vem me fazer feliz, porque eu te amo; você deságua em mim e eu oceano”.

E sobre a vida? O que há de letras? Junto aqui algumas referências do texto e outras minhas:

– “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.” (Renato Teixeira);

– “Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos, como os nossos pais” (Belchior);

– “Enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que tudo isso é normal, eu finjo ter paciência; e o mundo vai girando cada vez mais veloz, a gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um.pouco mais de paciência” (Lenine);

– “Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são, é o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão” (Caetano Veloso);

– “Cansado de correr na direção contrária, sem pódio de chegada ou beijo de namorada, eu sou mais um cara; mas, se você achar que estou derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo não para”(Cazuza).

É isso. Como nos versos de Gonzaguinha, o importante é “viver e não ter a vergonha de ser feliz; e cantar pela beleza de ser um eterno aprendiz”. Bem, se houver o que chorar ou sorrir, o importante é viver todas essas emoções. Está certo Roberto.

De modo geral, que as boas letras, onde estejam aplicadas na arte, sejam mais que inspiração em 2022. Talvez respiração, que é o sinal de vida, na sua essência.

 

 

 

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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