Pairam muitas incertezas sobre o futuro da reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, apesar de todas as etapas de retomada diplomática terem sido cumpridas entre o castrismo e o governo de Barack Obama. A eleição de Donald Trump à Casa Branca provoca temores de que o degelo seja desfeito pelo presidente eleito. Ontem Trump não sinalizou se romperá com Havana, mas foi muito duro quanto a Fidel, a quem chamou de um ditador brutal que oprimiu seu povo por quase seis décadas. E disse que o seu legado é de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação dos direitos humanos fundamentais. Um tom muito distinto daquele do atual chefe de Estado, Barack Obama, que adotou um tom cordial.
A notícia da morte de Fidel chegou a Miami em um comprido fim de semana, logo após o Dia de Ação de Graças e a Black Friday. Em Little Havana, coração dos cubanos de Miami, expatriados de todas as idades – uns nascidos em Cuba e outros em Miami – muitos empunharam panelas, bandeiras, camisetas e bonés para expressar seus sentimentos. Segundo Eduardo Gamarra, professor do Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade Internacional da Flórida, é crucial que o mundo entenda as razões da celebração dos exilados cubanos. “É inegável que a revolução foi construída sobre sangue, separação e lágrimas das famílias. É uma ferida que continua doendo nelas”, disse Gamarra, que acrescentou: “Acredito que a morte de Fidel seja um golpe moral para a esquerda latino-americana, que tentará se revitalizar através de sua memória.”
Durante a ultima campanha, Donald Trump disse que endureceria as condições da reaproximação, citando direitos humanos e a perseguição a dissidentes. Na Flórida, apelou ao voto dos exilados prometendo até cancelar a retomada das relações. Ele incluiu em sua equipe figuras do lobby a favor do embargo comercial do início dos anos 1960. O lobby pró-embargo, que inclui os senadores republicanos de origem cubana Ted Cruz e Marco Rubio, quer um imediato rompimento da retomada. Ontem Ted Cruz disse que a ditadura ainda continua. Na Casa Branca, Trump poderá desfazer concessões econômicas criadas por atos executivos de Obama, ignorando o Congresso. Elas incluem entrada de investimentos americanos, afrouxamento das restrições a transações privadas e restituição de serviços aéreos e postais. Mas gigantes americanas já começaram a expandir seus negócios para a ilha. E isso motiva por outro lado, os insistentes pedidos pela manutenção da reconciliação.