Diógenes Da Cunha Lima 

“Neste país (Holanda) feito do ócio de Deus,  não há ócio”.     (F. Carrasquer Launed, Nueva antología de la poesía neerlandesa)

O nosso Rio Grande, Fluminis Grandis, foi província holandesa por mais de vinte anos (1633-1654).

Natal está no Museu do Louvre, no Museu Britânico, na Biblioteca Nacional da França.  Franz Post, em 1638, esteve aqui, trazido pelo príncipe Maurício de Nassau.  Pintou, óleo sobre tela (62 x 95 cm), a Fortaleza dos Reis Magos.  É a primeira vez que Natal é retratada: o céu, as águas e os nossos índios tapuias, aliados dos holandeses.

A tela, que faz parte do rico acervo do Museu do Louvre, foi doada em 1679, por Maurício de Nassau , príncipe sem coroa,  ao rei da França, Luiz XIV, O Grande (1638-1715).  Esteve em exposição em Paris por dois meses.  O trabalho artístico, feito ao vivo, serviu também de inspiração a Luc-Vicent Thiery de Saint Colombe, que pintou Natal em guache, obra que hoje é patrimônio da Biblioteca Nacional da França.  Os desenhos de Post, estudos que lhe serviram de base, são conservados no Museu Britânico.  Post já havia fixado em telas as belas frutas nordestinas: cajus, mangabas, araçás.

Natal deve também a Maurício de Nassau a conquista definitiva do título de cidade, até então merecia o nome de cidade apenas porque era ordem do Rei Felipe II da Espanha.

A Companhia Privada das Índias Ocidentais estabeleceu, com a imagem de uma ema, o brasão do Rio Grande.  Seriam as emas abundantes aqui, como registra Barleu.   Luís da Câmara Cascudo anota o lema do brasão holandês Velociter, o veloz janduí, que significa ema, em sua linguagem pitoresca diz que a consagração de escudo foi porque “os janduís foram a guarda pretoriana dos holandeses”.

Os holandeses fixaram as bases para existência da medicina tropical através do livro de Guilherme Piso, História natural e médica da Índia Ocidental, em cinco volumes. O Rio Grande está na cartografia expressiva de Jorge Marcgraf.

A Holanda, no século de Rembrandt (1606-1669), de Vermeer (1632-1675),   teve seus momentos estelares, a sua idade áurea.

O país das papoulas, dos amarelos, girassóis que tanto impressionaram Vicent Van Gogh (1853-1890), se perpetua através do cultivo de uma variedade de flores em Holambra, colônia de holandeses, localizada a aproximadamente 130 km de São Paulo, responsável pelo abastecimentos das nossas floriculturas.  Tem, portanto, presença definitiva, histórica e cultural no Brasil.

Muitas famílias ainda conservam, entre nós, os nomes de origem, como os poéticos Wanderley e os respeitados Von Sohsten.  Os topônimos que lembram a presença holandesa são raros.  Os novos turistas não encontraram a designação de baia de Marten Thijsson.  O nome flamengo desapareceu para ficar apenas Genipabu.  Em Arês e Tibau, estão vagas recordações: a Ilha do Flamengo e o Morro do Flamengo.

Na época da Nova Holanda, a nossa pequenina cidade de Natal passou a se chamar Nova Amsterdã.  O nome foi levado pelos judeus holandeses do Recife para a atual cidade de Nova York.

Ao lado de tantas lembranças ilustres e heráldicas comemos o pão singelo de origem flamenga: o brote.

Os holandeses estão voltando, não em mais de sessenta dias de viagem por mar, mas pelo ar em nove horas.

Comprovo o verso antigo:  em Natal, só o que passa permanece.

Diógenes Da Cunha LimaEscritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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