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Ondas de calor se tornam mais frequentes e intensas no Brasil e escancaram desigualdade na adaptação ao clima extremo

Nos dias mais quentes do ano, , o risco de morte por causas naturais, como infarto, AVC e pneumonia, aumenta em até 50% — Foto: Prefeitura de Jundiaí/Divulgação

O número de ondas de calor no Brasil tem crescido de forma acelerada nas últimas décadas — e a tendência é que esse fenômeno se intensifique ainda mais nos próximos anos. Um estudo realizado por pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostra que os bloqueios atmosféricos, sistemas que impedem a chegada de frentes frias, estão por trás do aumento das temperaturas extremas.

Esses bloqueios criam uma bolha de calor, onde o ar quente fica preso e não há formação de nuvens nem ocorrência de chuvas. Segundo a pesquisa, até 2071, esses sistemas podem se tornar dez vezes mais potentes, agravando ainda mais as ondas de calor tanto no continente quanto no oceano.

“O bloqueio impede a formação de nuvens e a chegada de massas de ar frio. Isso deixa o tempo seco, mais ensolarado e quente, tanto em terra quanto no mar”, explica a oceanógrafa Regina Rodrigues, uma das autoras do estudo. “É um processo que gera ondas de calor terrestres e marinhas, com efeitos prolongados.”

São Paulo bate recordes de dias extremos

A capital paulista é um retrato claro dessa mudança. Antes dos anos 2000, registrava-se, em média, um dia por verão com temperaturas pelo menos 5°C acima da média. Entre 2015 e 2019, esse número saltou para mais de sete dias. No verão de 2024, foram 23 dias de calor extremo.

Essas temperaturas anormais têm aparecido até mesmo fora do verão. Em pleno outono, o país já vive o segundo veranico do mês de maio, com manhãs frias, tardes quentes e noites geladas. O sobe-e-desce de temperatura afeta diretamente a saúde da população.

“Fica esse quente-frio, quente-frio… meu corpo não aguenta”, resume David Barcellar, professor de educação física.

Desigualdade climática: calor castiga mais os vulneráveis

As ondas de calor não afetam todos de forma igual. Dados do IBGE mostram que mais de 16 milhões de brasileiros vivem em comunidades — cerca de 8,1% da população — onde a adaptação às mudanças climáticas é muito mais difícil.

Na Zona Oeste de São Paulo, a dona de casa Maria da Conceição Mendes enfrenta temperaturas acima dos 30°C dentro de casa, mesmo em dias considerados amenos. “Minha cama esquenta demais. Quando faz calor lá fora, aqui dentro é ainda pior”, conta. Para amenizar, ela recorre a bacias com água, toalhas molhadas e garrafas com gelo.

O telhado de zinco da casa contribui para o abafamento. “A gente tenta manter a casa aberta, passa pano molhado no chão, faz o que pode. Ar-condicionado? Nem pensar, isso é luxo pra gente.”

Segundo um levantamento recente, menos de duas em cada dez casas no Brasil possuem ar-condicionado. Ainda assim, as vendas do aparelho cresceram 38% no último ano, com quase 6 milhões de unidades comercializadas em 2024.

Efeitos na saúde e necessidade de adaptação

O calor extremo também afeta diretamente a saúde. Segundo o patologista e professor da USP Paulo Saldiva, nos 2,5% dos dias mais quentes do ano, o risco de morte por causas naturais, como infarto, AVC e pneumonia, aumenta em até 50% — especialmente entre idosos, crianças, pessoas doentes ou em situação de vulnerabilidade.

Mesmo com medidas para reduzir o aquecimento global, os especialistas alertam que o calor intenso veio para ficar, e defendem investimentos urgentes em adaptação climática.

“Precisamos tornar nossas cidades mais verdes, plantar árvores adequadas, criar florestas urbanas e envolver a comunidade, especialmente as escolas. A gente não pode deixar um legado de frustração — mas sim de esperança”, defende Saldiva.

Fonte: G1

Ponto de Vista

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