O VIOLINO, UM INSTRUMENTO POÉTICO –
Nestes tempos de imediatidade e polarismo, é bom lembrar a advertência do poeta e ex-presidente José Sarney, “O Governo é como o violino: você toma com a esquerda e toca com a direita”. Certamente, não é assim que pensa o presidente Jair Bolsonaro.
O violino é o mais agudo dos instrumentos de corda, da mesma família da viola, do violoncelo e do contrabaixo. É um soprano. Criado no século XVI, construído pelo alemão Gasparo Duiffopruggar (1514 – 1570) e consagrado pelo italiano Gasppard de Salo (1540 – 1609). Tem o som mais nobre e aveludado que o da antiga rabeca, de origem árabe. E da trombeta marinha, instrumento de uma corda só, como o nosso berimbau.
O violino teve impressionante participação no Renascimento italiano. Na cidade da arte italiana, Vercelli, encontra-se La Madonna degli Aranci, pintada por Gaudenzio Ferrari, dando ênfase ao violino.
Talvez nenhum instrumento musical mereceu mais louvores em prosa e em verso do que o violino. O poeta Luis Carlos Guimarães dizia que a “Chanson d’automne”, de Paul Verlaine, que tem como tema o tempo e o violino, havia anunciado a música antes de qualquer coisa, e tinha mil faces. Propôs a cinco amigos que fizéssemos a tradução possível. Seriam publicadas em conjunto. Infelizmente, encantou-se antes de concretar o projeto literário.
“A Canção de Outono” tem merecido traduções primorosas no Brasil, entre as quais as de Alphonsus de Guimarães e Guilherme de Almeida. Prefiro a rima de Paulo Mendes Campos, que assim começa: “Os longos trinos / dos violinos / do outono / ferem a minha alma / com uma calma / que dá sono”.
O poeta e acadêmico Gilberto Avelino faz apelo à sua amada: “Escuta comigo os violinos de dezembro. / Vem da noite um canto bom, / Um longo canto de lapinhas e fandangos”. A percepção poética, evidentemente, transforma a habitual rabeca dos folguedos populares em música violinística.
O ícone supremo dos violinos é o Stradivarius. De fama universal, tiveram origem no luthier de Cremona, Antonio Stradivari (1644 – 1737). A sua família produziu inúmeros e perfeitos instrumentos de corda.
O natalense Cussy de Almeida (1936 – 2010) foi o único brasileiro a possuir e tocar um violino Stradivarius. Ele era filho do genial maestro compositor Waldemar de Almeida. Aos 6 anos de idade, apresentou-se em concerto no Teatro Alberto Maranhão. No Recife, ao lado de Ariano Suassuna e de outros, participou da criação do Movimento Armorial. A sua arte permanece e é símbolo de virtuosidade.
O arco, que dá voz ao violino, é, preferivelmente, feito de pau-brasil. A sua consistência forte, rígida e flexível tornou-o ideal para os arqueteiros. A madeira brasileira diz presente em todas as principais orquestras sinfônicas e filarmônicas do mundo.
A indispensabilidade do violino nos conjuntos de orquestra permite um bom número de profissionais. Um exemplo é a Orquestra Sinfônica de São Paulo que abriga cerca de 30 violinistas atuantes.
O violino integra o violinista como se fora a sua própria alma e estimula o romantismo do ouvinte amante.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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