O QUARTO MOSQUETEIRO –

Ao amigo Omar Romero de Medeiros Sobrinho

Enquanto caminhávamos juntos nas trilhas da selva amazônica, no início dos anos setenta, abrindo caminho para o futuro, pude atestar que ali estava solidificada uma amizade construída há três anos.

Naquela oportunidade noneei-o como o ‘quarto mosqueteiro’.

Pronto!

Omar personificava o D’Artagnan, um jovem fidalgo, que almejava tornar-se um mosqueteiro e que nunca desistiu de seu sonho. Sua lealdade a Athos, Porthos e Aramis, representados por Dorian Ximenes, Humberto Micussi e Josuá Costa, amigos de mais tempo, mas, que ao conhecermos e convivermos com ele, a partir do espaço escolar da então Escola Técnica Federal – ETFRN – nós o filiamos também, como um irmão, pela sua habilidade em manejar a espada dos princípios morais e solidários que norteavam o lema d’Os Três Mosqueteiros.

Éramos jovens mosqueteiros aprendendo a ultrapassar os obstáculos da vida. Hoje, sessentões, mantivemos a velha e sólida amizade.

Omar teve que partir desse tumultuado mundo de tantos vírus: éticos, físicos, mentais e espirituais. O Covid-19 atropelou uma vida cheia de vitalidade, de experiência, de competência profissional, de conforto aos que lhe procuravam, de exemplo familiar, de dedicação às filhas e netos.

Em nosso castelo, onde nos reuníamos, era comum nos debruçarmos sobre a mesa de estudos, livros, apostilas, discussões e aprendizados. Esse “castelo” ainda existe: fica na Praça Dom Vital 504, ao lado da Igreja do Rosário, ali na Cidade Alta. Os anfitriões desses jovens mosqueteiros foram Da. Amélia Machado, Humberto Micussi (pai), Da. Joana D’Arc Cabral e seus filhos Micussi (Beto), Maria José, Elizabeth e Amelinha. Era um castelo acolhedor; nada faltava para que os mosqueteiros e, até, os que por lá aportavam, pudessem forjar os seus caminhos e seguir a trajetória que Deus apontava para cada um.

Posso dizer que foi um tempo feliz, profícuo, significativo até, para o modular de nossas personalidades e ancoragem de uma amizade que até hoje se confunde entre simples mosqueteiros e verdadeiros irmãos.

Estamos sempre prontos para cuidar um do outro e nos preocupamos em saber e acompanhar os desdobramentos de cada um em relação aos filhos e netos.

É! Mosqueteiros também sabem respeitar os modos, as sonsices, as crendices e as teimosias de cada um, mas na hora que precisa, não titubeiam, “Um por todos, todos por um”.

Recentemente, como prova disso, sem perguntar muito e sem nenhum constrangimento, se despojaram de qualquer orgulho e vieram em meu socorro. Somos assim. Somos gratos todos os dias.

Em março de 1971, Omar e eu, ambos com 20 anos de idade, arrumamos as nossas malas com roupas, remédios, expectativas, desejos de vencer e, com o que aprendemos em nosso curso de Estradas,  partimos de Natal/RN para Santarém/PA em nosso primeiro voo de boeing, e de lá para Itaituba/PA de monomotor da empresa EIT – Empresa Industrial Técnica S/A.

Lembro bem que o piloto, Joãozinho, um jovem como nós, ao avaliar o peso de nossas malas, num tom de brincadeira disse: “Aqui é comum chegar com malas vazias e sair com elas cheias de ouro”. Não sabia ele que naqueles pertences estavam os nossos tesouros: livros e apostilas.

Para testar a nossa ousadia e coragem, o piloto pediu para que Omar e eu déssemos um ‘passo’ na hélice do aviãozinho para que o motor “pegasse”. Assim fizemos. Poucos minutos depois estávamos sobrevoando a imensa selva amazônica rumo ao acampamento central da construtora, à margem esquerda do rio Tapajós, local denominado de Miritituba. Na outra margem do majestoso rio, distante cerca de 2,5 km, ficava, à época, a pequena cidade de Itaituba. Ali estava o nosso desafio: ser um dos tantos que contribuiriam, com muito trabalho, desbravando e construindo parte da Rodovia Transamazônica e, com ela, o desenvolvimento da região, especialmente das cidades beneficiadas pela estrada.

Relatei isso tudo apenas para inserir o quanto, nessa jornada, Omar foi um companheiro leal, pacificador, conselheiro e respeitado por toda a equipe técnica. Tratava a todos, independentemente de cargos e funções, como parceiros com o mesmo desejo: cumprir o cronograma com o melhor conhecimento e a melhor técnica que estavam à nossa disposição.

Omar, por necessidade de recompor a sua saúde precisou retornar para Natal algum tempo antes de mim. Fiquei sem o “D’Artagnan” no restante dos serviços da obra. O amigo e companheiro, tenho certeza, estava distante, mas sintonizado comigo, acompanhando cada passo que eu dava no desempenho da missão.

Omar, Dorian, Micussi e eu seremos sempre amigos-irmãos. Os Quatro Mosqueteiros. Agora ficamos os Três Mosqueteiros outra vez, mas abraçaremos a sua memória em honra da nossa amizade.

Deus te acolha, amigo Omar.

Maria Luíza, Ana Cláudia, Fernanda e Débora (sua esposa e filhas) sigam firmes!

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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