O PASSEIO NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO DE CRIANÇAS – Laíse Santos Cabral de Oliveira

O passeio para as crianças em tratamento oncológico: um resgate da rotina de vida – 

O adoecimento, principalmente para crianças e adolescentes, além de sintomas físicos, traz repercussões emocionais que podem ser vivenciadas como situações traumáticas na vida do sujeito. Para dar conta de uma nova rotina, cheia de consultas, procedimentos e restrições, o sujeito “deixa de ser criança”. Durante o tratamento oncológico, por exemplo, pacientes e familiares frequentam o hospital e a casa de apoio – instituições que carregam a marca de cuidado, porém, também tem a marca de adoecimento e de dor. As condições do tratamento quebram sua rotina de vida, podendo alcançar sua totalidade de modo que o desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo podem ser afetados. Assim, surgem demandas psicológicas que requerem bastante atenção.

Na Casa Durval Paiva, uma das atividades pensadas para garantir o resgate da rotina do ser criança, é o Passeio Terapia, o qual ocorre quinzenalmente e tem como principal objetivo promover o acesso à cultura e ao lazer, numa articulação e interação com sua realidade de vida e os temas propostos na classe domiciliar. O Passeio Terapia tem o intuito de despertar um novo conhecimento de mundo e um momento fora da rotina de tratamento das crianças e adolescentes atendidos na instituição. É o ir além das paredes da casa e do ambiente hospitalar em que eles realizam o tratamento.

Os passeios oportunizam o resgate da cidadania, possibilitando o acesso à cultura e a circulação humanizada pela cidade. Além disso, também tem como foco reinseri-los na sociedade com dignidade. Há relatos de pacientes que, através dessa atividade, teve a oportunidade de ver o mar e sentir a areia da praia pela primeira vez. Também houve a partilha de que ir ao campo de futebol foi a realização de um sonho. É imprescindível ultrapassar a própria estrutura física e buscar uma rede de suporte social. Essa atividade mostra o quão importante é pensar em uma rotina voltada para os usuários, incentivando a cultura e priorizando as necessidades e desejos da vida cotidiana do grupo.

Estimular a independência e a autonomia não significa deixá-los tomar decisões e fazer escolhas por conta própria. Para um desenvolvimento saudável é necessário que se interaja com o ambiente, seja ele interno – como foi pontuado, a casa de apoio e o hospital, ou externo. Incentivar a realização de atividades e propor novos desafios é fundamental para dar a possibilidade deles superarem seus limites e explorarem o ambiente. É importante observar como essas crianças/adolescentes enfrentam os erros, as decepções e o olhar do outro. A partir do contato com a sociedade, é possível identificar possíveis dificuldades de enfrentamento durante e após o tratamento médico, como por exemplo, o olhar preconceituoso ou de pena da sociedade diante de pacientes carecas e com máscaras no rosto.

A observação do psicólogo em ambientes externo à estrutura física da instituição permite futuras intervenções durante os atendimentos individuais e grupais, possibilitando o fortalecimento das estratégias de enfrentamento utilizadas por cada um dos pacientes, para vivenciar o processo de tratamento do modo mais saudável possível. Percebe-se ainda o fortalecimento do vínculo com a equipe de cuidado, o aumento da autoestima e, por consequência, uma melhor adesão terapêutica.

Laíse Santos Cabral de Oliveira – Psicóloga – Casa Durval Paiva – CRP 17-3166

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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