O CALUNGA DOURADO – Alberto Rostand Lanverly

O CALUNGA DOURADO –

Retornando de Dubai, Jesualdo havia planejado passar alguns dias na cidade maravilhosa, onde se hospedaria no apartamento de parentes, um adorável quarto e sala, muito bem localizado no bairro de Botafogo.

Planejava durante a estadia, rever a cidade e também assistiria a final da copa Libertadores da América, que aconteceria no Maracanã, considerando, mesmo com as restrições de público, haver conseguido quatro bilhetes, para o grande clássico.

Já havia estado no local em outras oportunidades e quando lá chegava, dormia em um sofá na única sala, uma vez que o quarto era ocupado pelo casal. Acontece que dessa vez, encontrou já hospedada, sua tia avó. Uma adorável figura de 85 anos, quase todos vividos em aprazível fazenda do nordeste.

Apesar de haver dito que pernoitariam no mesmo ambiente, um no sofá e outro em colchonete, a proposta foi rapidamente negada, uma vez que ela de forma incisiva afirmava que o único homem com o qual dormira fora seu marido, que falecera décadas atrás, e não seria agora que iria quebrar a tradição.

Jesualdo, lembrou que quando em outra oportunidade, muito tempo atrás, lá esteve, e a mesma coincidência havia acontecido. Ela não havia mudado em nada. Naquela época, contou ele, que a vovó durante o período no Rio de Janeiro adquiriu uma máquina fotográfica, que possibilitava programar e andar rápido para sair na imagem.

Ao retornar para sua cidade de origem, reuniu a família em um cantinho do quintal de casa, para registrar o momento e apresentar a novidade.

Programou a câmera e correu para a fotografia. Os parentes, saíram disparados, pulando a cerca se rasgando na mata. Quando ela gritou: Ei, vocês vão para onde? A filha mais velha falou: – mãe, tu que conhece o bicho está correndo, imagine nós.

Sabendo ser a nordestina querida, uma eximia cozinheira, no mesmo dia da chegada, Jesualdo comprou três quilos de camarão. Ao retornar, ela analisando o marisco, falou que não comia lagarta. Questionando o que se tratava, respondeu que para ela camarão era igual a lagarta e portanto tinha nojo.

Dia seguinte muito cedo, Jesualdo ainda dormia, quando escutou barulho vindo do único banheiro do apartamento. Chegando até lá, viu a vovozinha com um facão, cortando dentro do box, o pescoço de um guiné que houvera comprado vivo na feira livre da redondeza. O almoço foi inesquecível.

Às cinco da tarde aconteceria a decisão da Libertadores da América, resolveram ir todos. Combinaram que no trajeto somente Jesualdo falaria, dando as coordenadas, para que o motorista não notasse que os passageiros eram nordestinos e quisesse enganar na corrida realizada.

Na ida tudo deu certo. O jogo foi fantástico, no retorno a mesma tática seria usada.  Era noite. O silencio no interior do taxi era sepulcral, quando no aterro do Flamengo, a vovozinha, olhando para o Cristo Redentor todo iluminado, perguntou com pronuncia bem carregada: – eita, que calunga dourado é aquele de braços abertos em cima do morro?

Dia seguinte Jesualdo retornou para Maceió, são e salvo.

 

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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