NORDESTINADOS – Renato Cunha Lima

NORDESTINADOS – 

O nordestino é um predestinado a resistir. A primeira vez que ouvi o neologismo “nordestinado” foi num disco de vinil com poemas do saudoso Poeta pernambucano Marcus Accioly musicados por César Barreto.

Poeta Marcus Accioly nos deixou tem dois anos, imortal da academia de letras pernambucana ele passou a vida poetizando o nordeste e sobretudo o nordestino.

Para entender o nordestino é preciso entender sua origem, seu cotidiano e seu jeito de ser e pensar, não tenho a menor dúvida parafraseando o grande potiguar Câmara Cascudo, maior folclorista brasileiro, que o melhor do Nordeste ainda é o nordestino.

Cascudo mais que qualquer outro estudou e escreveu em diversas obras o jeito, a linguagem, a culinária, os costumes do nordestino e junto de Gilberto Freyre, com o célebre livro “Casa Grande & Senzala” a gente consegue se ver e se perceber, em nossa complexidade cultural.

Na poesia antológica do Poeta e primo Diógenes da Cunha Lima, “Jesus, um nordestino”, percebemos claramente nossa religiosidade e crença, nossa origem e diversidade.

“…E vieram adorar o Deus-menino
Os Santos Reis, entrelaçados de
bom jeito
Um negro, um índio e um
branco português…”

Quando o escritor Euclides da Cunha disse que o nordestino antes de tudo era um forte ele transcendeu a literalidade da palavra “forte”, nosso povo sofre e mesmo assim sobrevive e sabe de um jeito próprio ser feliz.

De tempos em tempos se fala em nordeste independente, até hino para tal sonho criaram, composição do repentista Ivanildo Vila Nova, sonho este que não concordo e não comungo, o Brasil deve muito ao Nordeste, não apenas pelos retirantes que contribuíram na construção do País, mas sobretudo pelos gênios que nossa terra ofereceu ao País.

Na verdade o sonho não deve e nem deveria ser o nordeste independente, mas sim o nordestino independente. Quem sabe rememorando e ouvindo os ensinamentos do ilustre filho de Pombal na Paraíba, o saudoso e fantástico economista Celso Furtado.

O povo nordestino segue de joelhos aos coronéis, não o mesmo tipo de coronel da época do cangaço, que impunha o poder de suas terras para monopolizar o trabalho, agora é diferente, os novos coronéis monopolizam os empregos, quase todos públicos, tanto que a enorme maioria dos municípios do interior do Nordeste são absolutamente dependentes do poder público, pela quase total ausência de iniciativa privada, uma região socialista.

E o mestre Luiz Gonzaga já alertava:

“…Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão…” e viciou realmente muita gente.

Em nenhum lugar do País a ideia de “Estado Tutor” é mais representativo que no nordeste, aqui infelizmente nas últimas décadas a luta não é por empreender, mas por ter um emprego e público. Experimente entrar em qualquer sala de aula de qualquer faculdade da região e perguntar quantos querem fazer um concurso público? No interior a disputa ainda pior, com os políticos disputando empregos para os seus apadrinhados e correligionários.

De fato o maior programa social é o emprego, já dizia o ex-presidente americano e republicano Ronald Reagan, mas não monopolizado nas mãos do Estado, nas mãos dos políticos, esse tipo de empreguismo escraviza, forma currais de dependências, os currais eleitorais.

O Nordeste precisa de um choque de liberalismo, a oferta de empregos precisa ser diversa e plural, mais do que nunca é preciso estender as mãos a este povo que resiste, ainda de joelhos, não oferecendo como sempre, ajudas e favores para subjuga-los a gratidão permissiva, mas para soerguê-los a dignidade de poderem sonhar e caminhar com seus próprios passos e méritos.

O nordestino quer somente oportunidades, como vem sendo nossa natureza com as intempéries climáticas, a exemplo da caatinga seca e cinza, que nas primeiras gotas de chuva rapidamente verdeja e floreia o sertão com os gorjeios dos pássaros.

Oportunidades de estudar, de empreender, de trabalhar, de sonhar, de ser nordestinado a ser livre, assim como diz o hino poético do meu amado Tio, Ronaldo Cunha Lima:

“Quando o grito de dor do nordestino
Unir-se à voz geral do desencanto,
Esse eco de repente faz um canto,
E o canto de repente faz um hino
E puro como um sonho de menino
Será cantado aqui, em qualquer canto,
Porque é símbolo, estandarte e será manto
De um povo que busca o seu destino.
E quando este hino pleno de ideal,
Canção do povo em marcha triunfal,
For lançado ao sabor do seu destino,
Aí se saberá, sem ter espanto,
Que um eco de repente faz um canto,
E um canto de repente faz um hino.”

 

 

Renato Cunha Lima – Administrador de Empresas

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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