Natal, minha cidade poema

José Narcelio Marques Sousa

Talvez seja por conta do excessivo carinho que dedico a esta terra, o fato de considerar-me o mais norte-rio-grandense dos paraibanos que nela residem – desculpem-me os que angariam o mesmo título. Pudera. Eu cheguei ao estado com sete anos de idade, e daqui nunca arredei pé. Sempre morando em Natal.

Nesta terra meus pais criaram a mim e a cinco irmãos. Aqui estudei, iniciei e conclui o curso de Engenharia nos primórdios da UFRN, trabalhei na profissão dos meus sonhos, casei com uma caicoense, tivemos três filhos natalenses e, agora, apascento cinco netos potiguares.

Costumo dizer que, se Paraíba e Rio Grande do Norte declarassem guerra, perdão minha terra natal, mas eu ensarilharia armas ao lado dos comedores de camarão – só falta mesmo ao país um descalabro político dessa natureza.

Mas, voltemos à capital de minha poesia. Eu lembro com clareza de Natal nos períodos aquém e além de décadas brilhantes. Quando criança eu estudei no Grupo Escolar Áurea Barros, na escola particular de Maria Dourado e no ginásio São Luís do padre Eymard Monteiro. Ali, empertigado na farda colorida da banda marcial, desfilei alguns Sete de Setembro arrancando sons agudos de um tarol desafinado.

Na adolescência dividi o científico entre o Atheneu e o Marista. “Apetigourei” saídas de aula de meninas do colégio Imaculada Conceição e “babei” de admiração nos desfiles de internas da Escola Doméstica, na passarela da Rua Apodi, quando saiam para missas dominicais na Santa Teresinha.

Assisti a comícios no Grande Ponto, alcancei os taxis Hillman na Rua Princesa Isabel e frequentei o Chico Chopp, a Sorveteria Oásis e a Lanchonete Kixou após deixar as salas dos cinemas Rio Grande, Rex e Nordeste. Conheci o Clube do Industrial e ouvi Genar Wanderley, o “cacique do ar”, comandar o Domingo Alegre, na Rádio Poti. Relaxei ou me irritei escutando o Aguardando o Futebol, na Rádio Nordeste, para saber o resultado do jogo entre América e ABC, no Juvenal Lamartine.

Ah! Não dá para esquecer os assaltos a residências com os blocos Bossa Nova, Peraltas e Xamego, nem do reinado de Momo nos clubes sociais Aero, América e ABC. Sou do tempo dos hotéis Caicó e Avenida, das lojas Nações Unidas e Duas Américas, das camisarias União e Mustang e das Lojas Seta.

Joguei futebol de salão no Sílvio Pedrosa e na quadra coberta do Atheneu. Disputei Jogos Universitários e saí desmoralizado de peladas no campo de futebol do 16º RI, amargando o apelido de perna-de-pau. Solteiro, frequentei a imperdível noite natalense e fiz visitas de cortesia a damas da noite no Wonder Bar e no internacional cabaré Maria Boa, propriedade de dona Maria Oliveira Barros.

Alcancei o Piri-piri, o Hippie Drive-in e curei pileques na Tenda do Cigano e no Bar Dia e Noite ao sair da boate Royal Salute. Participei, aos sábados, de papos antológicos no Bar É Nosso, em Areia Preta. Frequentei os restaurantes, Xique-xique, Samburá e o Granada Bar. Recordo dos bancos do Povo e S. Gurgel, na Ribeira.

Com orgulho, eu posso chamar a todos de meus conterrâneos, pois me fizeram cidadão do Estado, de Natal, de Mossoró, de Parnamirim, de Caicó, de Currais Novos e de Jardim do Seridó. Adoro Natal e o povo deste querido Rio Grande do Norte. Agradeço aos céus, todos os dias, a chance de ver os primeiros raios da manhã surgindo por detrás das dunas e, ao cair da tarde, o Sol se escondendo nas águas do Potengi. Sim, porque Natal também nos faz poetas.

José Narcelio Marques Sousa,  Engenheiro civil – jnsousa29@gmail.com