MÍDIA EMPANZINADA DAS MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS –
Ah, que saudade daqueles velhos tempos. Dos tempos em que nossas maiores influências estavam em nossas casas, entranhadas de comportamentos, exemplos e condutas, em que nos víamos espelhados nas estantes dos livros; na vitrola que tocava os discos de vinil com seus diversos gêneros musicais, com suas belíssimas letras, nos levando a refletir sobre os mais variados temas da vida cotidiana; nos filmes que assistíamos, arrancando suspiros das garotas românticas e sonhadoras, ditando moda, provocando certas rebeldias, inserindo gostos, moldando nossos rapazes com as influências da época.
Outro dia, estava eu passando pelos corredores do prédio em que exerço minhas atividades laborais, devia ser em torno do meio dia, pois lembro de ter sentido uma fome famigerada de comida de verdade, fome de comida salgada, a típica comida nordestina: buchada de bode, cuscuz e feijão verde, ah!, batata doce também, quando cruzei com uma colega de trabalho que havia mudado de setor há menos de um ano, ou seja, já não tínhamos mais tanta convivência diária. Bem, era o que eu pensava até aquele momento, quando a dita cuja me abordou indagando, na lata:
– Querida, desde cedo “escacavio” as redes sociais procurando suas postagens de hoje. Menina, nem te conto, eu estava em “fleupas” querendo ver o seu look de hoje…- ela falava apressadamente ao passo que me cubava da cabeça aos pés.
“Danôsse!” Agora é que são elas!
Lembro de ter arregalado os olhos, ficado sem voz e sem saber o que responder. Devo ter saído com um daqueles sorrisos amarelos, que damos quando não sabemos ao certo como agir. A minha única vontade era sair dali correndo. Não deu outra: saí pela tangente.
Aquilo que eu tinha acabado de viver me assustou por demais. Senti, naquele exato momento, o peso da responsabilidade social das minhas, até então, despretensiosas postagens. De certo que estou longe de ser uma celebridade, alguém com forte apelo visual ao ponto de chamar atenção do mundo, não me encaixo nos moldes sociais que a mídia prega, no entanto, toda essa marmota que me aconteceu, levou-me a pensar sobre a popularização das redes sociais, o alcance que elas podem ter e, a repercussão que pode causar uma simples fotografia do mar num dia qualquer da semana, numa dessas esquinas que cruzamos pela vida, postada do Instagram, e, quem dirá, de um look fashion postado às 7h da manhã, antes de sair para o trabalho.
Meus caros leitores, isso é mais sério do que a minha vã filosofia jamais ousou pensar. Vejamos… Algo que deveria ser uma simples postagem, recortes de um instante vivido e compartilhado com os amigos e seguidores virtuais, pode, na verdade, tomar grandes proporções, e se tornar uma ameaça, isso, dependendo de quem esteja do outro lado. Calma, explico: as redes sociais se tornaram verdadeiras vitrines virtuais, projetando a todo o momento vidas perfeitas, vendendo a ideia de felicidade plena.
Nossas vidas cotidianas estão sendo medidas pelas emergentes virtuais, que nascem dos marketing digitais, com receitas de felicidade e sucesso. Como não lembrar da mais nova celebridade fictícia, que se mistura no imaginário dos seus seguidores, como algo real, a “Vivi Guedes” que, nas telas da TV, surge como modelo de comportamento social, influenciadora de opinião, um bom exemplo do que seja um Digital Influencer, segundo definição da Wikipédia que diz:
“Pessoas, personagens, marcas ou grupos que se popularizam em redes sociais como Facebook, Twitter, YouTube, Instagram e outras, gerando conteúdo, gerando um público massivo que acompanha cada uma de suas publicações e eventualmente compartilham com outras pessoas”.
Gente, as blogueirinhas estão por toda parte, elas invadiram as mídias sociais e o imaginário de seus seguidores, são elas as It Girls, as garotas descoladas que todos querem imitar, elas são desejadas, amadas e também odiadas. São referência no estilo de vida que levam, ou, que supostamente levam. Nos dias atuais todos nós somos, de alguma forma, influenciadores de opinião, isso é fato. No entanto, o que me causa mais alvoroço, na verdade, é o tipo de influência que estamos proliferando, quais os valores que nossas postagens ensinam e o que tiramos de produtivo ao final de um dia de postagens nas redes sociais.
Com a mente em frangalhos, com tantos pensamentos em trânsito, fazendo um paralelo com a contemporaneidade, é bem sabido que o início do séc. XX foi um marco nas mudanças culturais aqui no Brasil, o rompimento com os padrões vigentes, na Semana de Arte Moderna, sobre a influência dos artistas responsáveis por revolucionar o cenário nacional da época, desembocando nas mudanças socio/culturais de um povo, rompendo paradigmas e rótulos.
Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Mafaltti são alguns dos “Digital Influencer” daquela época, suas “postagens” em telas, esculturas, livros estão beirando o centenário, com registros em cores, letras, formas e cortes profundos, fincados na transformação de um tempo, de um povo, que jamais será o mesmo. Não há como negar o legado, deixado pelos influenciadores do Séc. XX, espalhado pelos quatro cantos do país, que nos influencia até hoje, e isso é fato.
O território livre da internet o torna terra de ninguém, ou de todas as tribos, vendendo ilusões e sonhos nem sempre realizáveis, um fenômeno crescente e preocupante com a amplitude dos conceitos rasos e fúteis, num show da vida que amplifica novos conceitos e valores. Como desenvolver na Maria-vai-com-as-outras a capacidade argumentativa e questionadora diante de tantos conteúdos supérfluos e efêmeros?
Não temos essa resposta, a dimensão desses eventos só o tempo poderá nos mostrar, com suas causas e efeitos. No entanto, os lampejos de consciência me levam a engajar movimentos de responsabilidade social que assumimos quando despejamos conteúdos em nossas redes sociais…
A partir de agora terei de pensar melhor nas produções dos meus looks matinais, nos ângulos dos registros das paisagens que o olhar de poeta traz. Ah! Isso mesmo, o conteúdo terá de ser sempre muito mais relevante que as formas, filtros e ângulos e imagens.
Flávia Arruda – Pedagoga e Escritora do livro As Esquinas da Minha Existência, Flaviarruda71@gmail.com
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