MACRON RESSUSCITA O “CENTRO” DA POLÍTICA –
A França tem novo presidente.
Emmanuel Macron assumiu o cargo neste domingo, 14, em uma cerimônia no Palácio do Eliseu. Ele
recebeu 65,1% dos votos, contra 34,9% de sua rival, a ultradireitista Marine Le Pen, na última eleição. Uma vitória emblemática, no atual momento europeu e global. Vários aspectos poderiam ser analisados, diante das características sui generis da eleição francesa, neste ano. Um, entretanto, poderá ser destacado.
Macron ressuscita o liberalismo-democrático, traduzido nas teses defendidas pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman e o britânico Anthony Giddens, o último com a defesa da “Terceira Via”, que significa a tentativa de reconciliação entre direita e esquerda.
O cenário econômico estagnado da França determinou o sepultamento dos partidos políticos tradicionais e opção por alternativa afastada dos extremos ideológicos e visão pragmática do futuro.
O mercado deixa de ser endeusado e considerado como uma finalidade em si mesmo, forma abominável de extremismo.
E, ao mesmo tempo, a igualdade de oportunidade é colocada como exigência fundamental, cujo meio de alcançar é através do Estado, cumprindo suas funções sociais.
Nesse particular, o “voto francês” acolheu o pensamento de Bauman e Giddens, defensores do modelo que estaria além do livre mercado e do socialismo democrático; algo realmente inovador.
Em entrevista concedida, Bauman referiu-se certa vez ao liberalismo, citando um dos fundadores dessa doutrina, John Stuart Mill e observou que ele “também chegou perto do socialismo, por acreditar que para implementar o programa liberal, o programa da liberdade humana, é necessário uma distribuição justa de oportunidades, diminuindo-se a distância entre os membros mais ricos e os mais pobres da sociedade.
“E, se nos lembrarmos de Lord Beveridge, o criador do Estado de bem-estar social britânico, o caso é o mesmo”.
Bauman sempre deixava claro em suas análises, que deve existir a garantia do Estado, o qual denominava de seguro coletivo contra o infortúnio individual.
Bauman não hesitou em que afirmar que o liberalismo e o socialismo sempre convergiram.
Há uma conexão entre os dois e tudo se reduz a questão simples da existência de dois valores igualmente indispensáveis para a vida humana decente e digna: liberdade e segurança.
Não se pode ter um, sem que se tenha o outro. Qualquer que seja a perspectiva da qual se parta, chega-se sempre à mesma questão, de que, ou liberdade e segurança são obtidas juntas, ou não serão obtidas de modo algum.
A Terceira Via de Anthony Giddens oferece a perspectiva de uma nova economia “mista”, implantada no “equilíbrio” entre a regulamentação e a desregulamentação e aspectos econômicos e não econômico na vida da sociedade.
Deve ser “preservada a competição econômica”, quando ela for ameaçada pelo monopólio. Deve também “controlar os monopólios nacionais” e “criar e sustentar as bases institucionais dos mercados”.
Não se pode negar que o sucesso eleitoral de Macron abre uma perspectiva nova de posicionamento político-ideológico, ampliando horizontes para eliminação da dependência de teses ortodoxas de direita e de esquerda.
A eleição de Macron provoca alerta para o Brasil, que se depara com o esfacelamento generalizado de suas lideranças, o que levou Editorial recente do “Estado” a concluir que “o cenário político nacional está devastado e não há lideranças capazes de construir saídas efetivas para a crise.”
O novo presidente francês não se colocou farisaicamente perante o eleitorado como não político, para conquistar a confiança popular. Ao contrário. Com sólida base intelectual, renunciou um ministério no governo central e lançou novo movimento político, o En Marche!. Portanto, sempre se disse político e assim construiu a sua ascensão, degrau a degrau, o que inspira confiança para a sociedade. Mais uma vez a França é bussola para o mundo. Que a lição inspire também o Brasil em 2018.
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